A colunista do GLOBO e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), Natalia Pasternak, é a primeira brasileira a integrar o Committee for Skeptical Inquiry (CSI) – em português, Comitê para Investigação Cética –, fundada nos anos 1970 por nomes como astrônomo Carl Sagan para defender o pensamento científico e crítico em contraponto à pseudociência.
Seu ingresso será oficializado na próxima edição trimestral da publicação do CSI, a “Skeptical Inquirer”. Criado em resposta ao crescente interesse da sociedade americana e de parte da mídia em temas sem embasamento científico, como supostos fenômenos paranormais, a ufologia e a homeopatia, o comitê expandiu sua representatividade ao redor do globo nas últimas décadas.
Agora, com o desafio da pandemia da covid-19, o movimento cético enfrenta a promoção de remédios sem comprovação científica contra o coronavírus, como a cloroquina, inúmeras falsas promessas de cura e discursos antivacina.
Pasternak, que dividirá espaço com cientistas de renome internacional como o biólogo britânico Richard Dawkins e o astrofísico americano Neil deGrasse Tyson, relata que se emocionou ao receber o convite.
— É um grande reconhecimento ter meu nome ao lado de Carl Sagan, alguém com quem certamente não me equiparo. Mas é bom saber que estou no caminho certo — relata Pasternak. — Existe uma preocupação internacional com o Brasil pelo fato do país e dos EUA terem presidentes negacionistas da ciência. Eles (Jair Bolsonaro e Donald Trump) têm um histórico que precede a pandemia e agora vimos o estrago que fizeram com o negacionismo.
A microbiologista, que fundou o primeiro instituto cético no Brasil, salienta que, ao contrário do que possa sugerir o nome, o movimento representa aqueles que defendem e exigem as evidências científicas.
— O ceticismo não deve ser visto como uma coisa ruim. Às vezes confundem o cético com aquele que não acredita. É o movimento que promove o pensamento científico, crítico, e exige evidências científicas. Os negacionistas são aqueles que as negam — explica a colunista do GLOBO. — A pseudociência cresceu no mundo, mas principalmente no Brasil, promovida pelo próprio governo federal com a negação da ciência e da própria pandemia. Isso mostra que o movimento cético é essencial para o desenvolvimento da ciência brasileira.
A colunista do GLOBO conta que a fundação do IQC, em 2018, contou com grande suporte do CSI:
— Mesmo antes da pandemia já tínhamos um movimento crescente de pseudociência no Brasil, que na minha história começa em 2015 com a fosfoetanolamina, a chamada pílula do câncer (cujo uso foi liberado por lei do então deputado federal Jair Bolsonaro). Quando fundei o IQC, tive o apoio de Richard Dawkins, que foi muito gentil e se mostrou muito preocupado com o Brasil. O CSI me ajudou muito a montar o instituto desde o começo.
Pasternak sublinha, ainda, o papel do movimento cético e de seu próprio instituto de comunicar informações científicas de forma didática com a população e, assim, combater a desinformação e a pseudociência. Para ela, o mundo vive momento desafiador com a politização da pandemia e o crescimento de movimentos antivacina e a comunidade científica precisa “ficar acordada”.
— Precisamos ensinar o pensamento crítico desde a educação básica para nossas crianças e jovens e formar cidadãos — diz a microbiologista. — Mas temos que crescer a bolha dentro da academia para depois estourá-la. Temos o ensino de homeopatia dentro das universidades de medicina e farmácia e o endosso do SUS a diversas curas alternativas. Precisamos criar esse pensamento crítico dentro da comunidade científica e de lá para fora. [Foto de capa: Divulgação]