Saques massivos em edifícios públicos e armazéns de alimentos ocorreram neste sábado (24) na Nigéria, o país mais populoso da África, duas semanas após o início de uma onda de protestos contra a violência policial. Os alimentos saqueados por milhares de pessoas em cidades como Jos (Centro) e Ede (Sudoeste) deveriam ter sido distribuídos pelo governo em março e abril, quando foi decretada uma quarentena para lidar com a pandemia de coronavírus.
— Durante o confinamento, passamos fome e eles esconderam a comida — disse Mafeg Pam, morador de Jos, indignado. — Que tipo de governo nós temos? Somos fracos, muita gente passa fome.
Carregado de sacas de alimento, onde se podia ler “Não venda. Governo da Nigéria”, Mohamed Ibrahim caminhava pela estrada que leva ao armazém saqueado em Jos:
— Esconderam toda essa comida desde o início do confinamento (no final de março). Todos os preços aumentaram. Como vamos sobreviver? — indagou.
Um saque massivo desse tipo já havia bloqueado a cidade de Ede na sexta-feira, e em Calabar as residências de líderes políticos foram atacadas.
Na capital econômica, Lagos, por outro lado, a noite foi de tranquilidade, após um toque de recolher ser decretado na noite de terça-feira para tentar conter os protestos que vêm acontecendo nas últimas duas semanas.
A Nigéria, principal produtor de petróleo da África, com 200 milhões de habitantes, é considerado um dos países mais corruptos do mundo e agora vive uma profunda crise social. O movimento de oposição que surgiu em Lagos levou a uma multiplicação de saques e ações violentas.
A Força Policial da Nigéria disse neste sábado que seu inspetor geral, Mohammed Adamu, ordenou a mobilização imediata de todos os bens e recursos para acabar com a violência, pilhagem e destruição de propriedade por “criminosos disfarçados de manifestantes”.
“O IGP ordena aos cidadãos cumpridores da lei que não entrem em pânico, mas que unam forças com a polícia e outros membros da comunidade policial para proteger suas comunidades dos elementos criminosos”, disse a polícia em um comunicado.
Ao menos 69 pessoas morreram desde o início dos protestos, disse na sexta-feira o presidente Buhari. A maioria das vítimas é formada por civis, mas o número inclui policiais e soldados.
A revolta popular sem precedentes desde o retorno a um governo civil em 1999 é a crise política mais séria que enfrenta o presidente Muhammadu Buhari, um ex-governante militar eleito em 2015. [Capa: Ifiok Ettang/AFP]