Pai de menino com braço quebrado que morreu após receber anestesia, desabafa: ‘Queremos justiça’

O autônomo Jailson Coutinho, pai do menino Saimon Gabriel, que morreu após receber quatro anestesias para tratar um braço quebrado, quer a punição do médico responsável pelo procedimento.

Sete meses depois da tragédia, ocorrida em Manicoré, no interior do Amazonas, o pai disse que ainda não têm respostas sobre a morte do filho e que chora constantemente a ausência da criança. O médico responsável pelo procedimento foi afastado das funções logo após o ocorrido.

Na época, a denúncia foi feita pela mãe do menino, Sandy Freitas, que acompanhou a aplicação das doses.

Saimon, de 6 anos, deu entrada no hospital Dr. Hamilton Cidade após sofrer um acidente de moto com o pai, que também ficou internado.

Na colisão, a criança fraturou o braço e foi levada à unidade hospitalar, de onde não saiu com vida.

“Queremos que haja justiça. Não tem como isso ficar assim não. Ele tem que ser punido”.

Desde a morte da criança, Jailson disse ao G1 que a família não tem um dia que não chore a ausência do filho.

Com o passar do tempo, a dor ficou ainda pior, principalmente para ele, que sequer conseguiu se despedir da criança, já que também foi internado após acidente.

“Eu sofro, a mãe sofre, o irmão de três anos sofre. Eram os dois. Eles brincavam juntos. Aí ele fica perguntando por ele. É terrível o que estamos passando, estamos desesperados. Não tem como ficar bem com uma situação dessa”

Jailson disse que após se recuperar chegou a procurar a delegacia da cidade para saber como estavam as investigações do caso. Na ocasião, foi informado que o Inquérito Policial havia sido concluído e encaminhado Ministério Público, mas não obteve mais respostas.

“Era o bracinho do meu filho e eu não pude fazer nada. O sentimento é terrível. Não pude nem me despedir. Não podia andar. Meu filho antes de entrar na sala do procedimento falou para mim: ‘papai, eu queria dormir com o senhor’. Dói”. 

Após a morte do menino, o promotor da cidade Vinícius Ribeiro de Souza chegou a abrir uma investigação, e oficiou a delegacia de Manicoré e a Secretaria Municipal de Saúde para saber quais os procedimentos seriam adotados sobre o caso.

“O pessoal da delegacia disse que todo o material está nas mãos do promotor. E, desde então, eles só falaram isso. A gente não sabe como está. Estamos desesperados, perdemos o nosso filho por uma grande negligência médica. Nosso filho foi morto. E agora está nesse negócio”.

G1 entrou em contato com a Polícia Civil e Ministério Público sobre o caso. Em nota, a PC respondeu que as informações do caso são de responsabilidade do MP. Já o MP, até a publicação do material, não respondeu os questionamentos.

Questionado, o Tribunal de Justiça do Amazonas informou que processo nº. 0600393-34.2021.8.04.5600 tramita na 1ª. Vara da Comarca de Manicoré e, atualmente encontra-se em fase de diligências a pedido do Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE/AM).

Processo administrativo

Na época do caso, a Secretaria de Saúde do Amazonas (SES) também disse que entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Manicoré, responsável pela gestão do hospital onde ocorreu o fato, para apurar as circunstância do atendimento dado a criança.

A SES disse que iria acompanhar o processo. Em nota, o órgão diz que acompanhou o processo administrativo aberto pela Secretaria Municipal de Manicoré, responsável pela contratação do médico, sobre as circunstâncias do atendimento e a conduta médica. O profissional de saúde foi afastado imediatamente das funções na unidade hospitalar.

Em resposta ao governo, a Secretaria da Saúde de Manicoré informou que instaurou uma comissão para avaliar a conduta do médico. Ao G1, a secretária de saúde do município, Adriana Moreira, disse que a comissão montada para avaliar a conduta do médico ainda não entregou o relatório final do caso.

“O médico ainda não retornou ao trabalho e a equipe ainda não me passou o parecer. Eles estavam em conclusão. Infelizmente, esses processos acabam sendo demorados, porque tem que conversar com a médica que estava de plantão, a anestesista, e eles não estavam conseguindo contato. Ela não trabalha mais no município, e eu soube que essa era a única questão que precisavam fechar”.

O Conselho Regional de Medicina também havia determinado abertura de sindicância para apurar possíveis irregularidade no procedimento médico. No entanto, ao G1, disse que não poderia informar sobre o resultado do processo administrativo, já que o mesmo tramita em sigilo processual, nos termos do Código de Processo Ético-Profissional.

Internado após quebrar braço

Conforme a ficha do Hospital Hamilton Cidade, o menino deu entrada no dia 18 de fevereiro com o braço quebrado. Dois dias depois, ele foi submetido a um procedimento cirúrgico seguido de colocação de gesso.

A mãe disse que a anestesista de plantão não foi chamada para acompanhar a cirurgia e que o médico ortopedista decidiu pesquisar na internet a quantidade de anestesia que deveria administrar.

Consta no documento do hospital que três anestésicos foram administrados, e que, na sequência, a criança teve uma parada cardíaca. O menino ainda resistiu por 12 horas na UTI.

Na manhã do dia 21, a anestesista foi até a criança, que já se encontrava em estado grave e, como consta no relatório da médica, não foi possível reverter o quadro. No atestado de óbito, constam parada cardíaca, efeitos adversos a anestesia e pneumonia provocada por aspiração de alimento para o pulmão.

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