‘Sabão em pó’: conheça a sofrência luso-brasileira que está bombando

Com sotaque português, fabricação goiana e “sofrência” luso-brasileira, a música “Sabão em pó” virou o primeiro grande produto de exportação do “feminejo”. A música da dupla sertaneja Senhoritas, do Porto, viralizou em Portugal com versos sobre cueca e traição.

Veja vídeo acima e leia a história abaixo:

  • 📝”Sabão em pó” foi escrita em abril de 2022 em Goiânia, por cinco autores brasileiros.
  • 👭 Ela foi mostrada ao produtor da dupla ‘femineja’ portuguesa Senhoritas.
  • 💥A faixa explodiu no TikTok, nas rádios e nas TVs de Portugal no início do ano.
  • ↩️ Nos últimos dias, “Sabão em pó” foi descoberta pelo público brasileiro e voltou a viralizar.
  • 💿 Os autores já emplacaram outra música em Portugal, e as Senhoritas preparam o 1º álbum.

Os fabricantes de ‘Sabão em pó’

O time brasileiro de autores é misto nos gêneros e origens: Pedro Veredas e Melissa Manzi, de Goiás, Rodrigo Hit, do Rio de Janeiro, Fausto Maciel, de Santa Catarina, e Priscilla Baia, de Pernambuco.

“Foi uma tentativa de falar de traição de forma diferente, colocar um detalhe, achar uma desconfiança para se descobrir”, diz Pedro. Na letra, a mulher descobre ser traída ao ver uma cueca branca da Calvin Klein na roupa suja, sem nunca ter visto o homem usar.

“Com quem você está usando ela? Comigo se só usa as velhas”, questiona a mulher na música sobre a cueca branca. “A verdade veio com sabão em pó”, ela conclui.
Eles cogitaram vender a música para uma cantora do sertanejo ou do brega no Brasil. Ela chegou a ser gravada pela cantora paraense Diva do Brega. Mas a compositora Priscilla Baia tinha contato com o produtor português David Navarro, que tocava o projeto de feminejo português. Ele ouviu e quis a faixa.

Projeto de feminejo português

Joana Bastos era backing vocal em grupos da cidade do Porto. Mas ela queria ser cantora principal. “Pensei: ‘música sertaneja é aquilo que ouço no rádio, então por que não fazemos esse registro aqui em Portugal?”, explica. O projeto foi encampado pela produtora portuguesa Vidisco.

Joana era acompanhada por Marlene Pinto, que sempre foi cantora de fado. Marlene gravou com ela “Sabão em pó” e as outras duas faixas das Senhoritas até agora, “Amiga me diz” e “Sou mãe solteira”. Mas, com o sucesso, Marlene preferiu se dedicar ao fado, e foi substituída por Ana Cunha.

“De primeira pode causar um estranhamento para nós aqui”, Pedro comenta a interpretação portuguesa. “Mas elas conseguiram trazer uma dramaticidade que a letra pedia”, elogia. “Fiquei pensando que o fado também carrega esse drama, essa saudade, esse sentimento cru, de carne viva.”

“O fado também é sofrido, fala muito da ‘sofrência’, só que em ritmos diferentes. A mensagem é um bocadinho idêntica”, comenta Ana.

“O fado usa mais ironia e metáforas. A ‘sofrência’ é mais direta, sai a história logo de imediato”, compara Joana.

A explosão da ‘cueca branca’ em Portugal

“Eu lembro-me de ouvir a primeira vez a música”, conta Joana, “e disse: ‘Bem, isto vai ser um sucesso’ Desde o momento em que ouvimos sabíamos que seria um hit.” Ela define a canção como “orelhuda”, gíria portuguesa para música colante, que os autores brasileiros chamam de “chiclete”.

“É o ‘primeiro estranha e depois entranha'”, brinca Ana sobre o refrão “orelhudo”. A música viralizou no TikTok em janeiro e chegou ao topo do ranking viral do Spotify português. Elas foram a programas de rádio e TV de Portugal, e os vídeos das apresentações também se espalharam nas redes.

Retorno ao Brasil

“A música gerou briga nos comentários da galera que postava os vídeos e os memes, entre brasileiros e portugueses. Eles reclamando que estavam importando coisas de cá para lá, e os brasileiros com aquela piada de roubarem nosso ouro. E o embate deu uma impulsionada”, diz Pedro.

“Não foi na intenção de roubar nada. Muito pelo contrário. É darmos as mãos”, defende-se Joana. “Se nós admiramos tanto os vossos cantores, por que não traçar esse caminho?”, diz. Ela encontrou as ídolas Maiara & Maraisa nos bastidores de um show em Portugal, e mostrou “Sabão em pó” a elas.

Apesar dos brasileiros nos comentários, entre janeiro e março a música repercutiu mais em Portugal. Mas, nos últimos dias, um vídeo começou a circular no TikTok e no Twitter entre brasileiros. “Começamos receber muitos contatos daí também, o que é ótimo para nosso projeto”, diz Joana.

Senhoritas preparam 1º álbum

“Vamos continuar neste registro da ‘sofrência’ e do sertanejo”, diz Joana. As Senhoritas estão atualmente preparando o primeiro álbum.

As paradas portuguesas têm sertanejo, mas são os mesmos hits dos artistas famosos daqui. Também há cantores do estilo que trabalham em Portugal, mas quase todos são brasileiros radicados lá. É o caso do paulistano Fauzer Denner, que vive de shows no país europeu.

“Antes tinha uma certa exclusão do pessoal do sertanejo. Mas ao longo do tempo foi ganhando uma grande força. Para mim, é interessante ver os portugueses entrando no mundo sertanejo e cantando da forma deles”, diz Fauzer Denner, que já participou do reality de TV “Ídolos” de Portugal.

Já houve tentativas de emplacar o sertanejo ‘made in Lisboa’. A dupla portuguesa Ricardo e Henrique teve algum destaque na década passada, na onda do “sertanejo pegação”, mas não se firmou. Mais antigo, o cantor Zé Amaro se define como “sertanejo português”, mas vai na linha do country dos EUA.

O que é inédito no caso das Senhoritas, além de serem mulheres, é a chance de transformar o viral em sucesso mais duradouro da produção local. “É algo que nós queremos que ganhe consistência aqui, que fique sério”, diz Joana.

O quinteto de brasileiros que compôs “Sabão em pó” está esperto. Eles já venderam outra composição sertaneja a um cantor português: “Venenosa”, para Pedro Miguel.

Eles também fecharam a regravação brasileira de “Sabão em pó” com a cantora pernambucana de brega Priscila Senna. Em breve ouviremos a cueca em dois sotaques.

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