Um inimigo silencioso, que se espalha pelo ambiente causando problemas de saúde em quem tem contato com ele. Essa poderia ser a descrição de um novo vírus respiratório, mas é como a neurocientista Ana Carolina Souza compara o “contágio do estresse”.
Segundo Ana Carolina, mesmo as pessoas que não estão vivenciando situações pessoais de estresse podem sofrer as consequências físicas dele – com alterações hormonais, cardíacas e da pressão, por exemplo – caso alguém do convívio próximo esteja se sentindo sobrecarregado, pressionado e desmotivado.
De acordo com a neurociência, isso ocorre porque o cérebro tem circuitos que mimetizam o que a outra pessoa está sentindo e experimentando. Alguns estudos mostram que algumas pessoas, inclusive, levam esses reflexos consigo.
“Estar próximo de alguém que está vivendo uma situação estressante ou que vive uma carga de estresse grande faria com que começássemos a mimetizar essa pessoa, a simular no nosso cérebro o que ela está expressando naquele momento. E com isso começamos a ter uma reverberação que não é nossa”, afirma Ana Carolina, em entrevista ao Metrópoles.
Esta teoria, segundo Ana Carolina, é a base da empatia. A especialista tem formação em biomedicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado em psicologia e neurociência.
O que acontece com o cérebro em situações de estresse?
Ao se deparar com uma ameaça real ou psicológica, o cérebro dispara uma resposta automática. Ela é feita com a ativação da liberação de hormônios do estresse, como o cortisol e adrenalina, para reagir de forma adequada.
“Você precisa acelerar o seu coração, precisa de mais sangue circulando no corpo para correr, lutar, então é necessário esse tipo de resposta”, explica Ana Carolina.
Logo em seguida, outras áreas do cérebro processam essas mesmas respostas. É então que tentamos entender o que está acontecendo. Todo esse processo gera um impacto no organismo.
Ele pode ser positivo, quando nos faz evitar uma situação de risco, ou ineficiente quando a percepção de ameaça é distorcida.
“A pressão, a urgência, o excesso de demandas, a dificuldade de organizar o tempo e tudo o que vivemos no trabalho gera uma carga de estresse que se acumula com outras situações da vida, as questões financeiras, de relacionamento, a preocupação com a família. Tudo isso é como um copinho que vai enchendo e essas respostas que são físicas, estão acontecendo quando o tempo todo”, considera a neurocientista.
Como consequência à liberação constante dos hormônios do estresse e pressão arterial mais alta, o corpo sofre um desequilíbrio e há um desgaste. Pessoas nessas situações tendem a ter infecções recorrentes – como gripes, alergias, dores de estômago e de cabeça.
Todas essas consequências podem acontecer também em uma pessoa que sequer passou por uma situação de estresse, apenas por estar sentada ao lado de outras pessoas com o estresse elevado em um escritório, por exemplo.
“Agora estou ativando todo esse circuito no meu cérebro inconscientemente. Então a minha pressão arterial começa a mudar porque vejo alguém estressado do meu lado. Os efeitos de quem está sofrendo essa resposta cronicamente podem gerar um desgaste na outra pessoa que está testemunhando o estresse”, detalha a especialista.
Como se proteger dos efeitos do estresse?
O primeiro passo para minimizar os efeitos físicos do estresse diário é entender quais situações necessitam de uma reação de resposta.
Em situações pontuais, que não foram previstas, é possível fazer um sistema de compensação. “Se passei por uma situação muito difícil, a minha cabeça está explodindo e não quero ver ninguém, talvez fosse bom respeitar isso, dar um tempo e se afastar para não potencializar o estresse”, ensina.
A neurocientista lembra de uma fórmula da psicologia que sugere três situações prazerosas e que trazem relaxamento para cada uma situação estressante vivida. A estratégia ajuda a balancear os efeitos físicos do estresse. “Todos nós deveríamos preservar um certo espaço para o autocuidado”, aconselha Ana Carolina.