Zumbi dos Palmares no Fortnite traz herói nacional para o mundo dos games

Para acessar o mapa em Fortnite, basta colocar o código “6696-5695-8858” na caixa de busca do game. Vale lembrar que o modo é gratuito, assim como o próprio Fortnite em si, e basta acessar para começar a jogar. Uma dica é juntar mais amigos para conhecer, já que a diversão será maior com estratégias de grupo para defender o Quilombo.

A gameplay de Zumbi dos Palmares é bastante simples: você começa o mapa em uma das casas do Quilombo e escolhe entre o Modo Invasão e o Modo Exploração. O primeiro tem a jogabilidade padrão, de tiro, com cutscenes que colocam Zumbi e Dandara para falar sobre o território e sua defesa, além de liberarem armamentos extra para o jogador reforçar seu arsenal conforme as ondas vão avançando.

Há ainda uma economia no jogo, permitindo comprar novas armas ou mesmo bananas, que são fonte de HP. Também é possível recuperar sua vida rapidamente embaixo da Árvore Sagrada, próxima à Casa Central, que é ponto estratégico na defesa de Palmares. Inclusive, o jogo avisa a você caso os invasores estejam muito próximos do local, e vale o esforço de se aproximar e eliminá-los.

Segundo Alexandre de Maio, diretor da Salve Games, a opção pelo Fortnite se dá pela proposta do jogo, cuja mecânica encaixa mais no que queria ser feito em Zumbi dos Palmares. “Minecraft e Roblox, por exemplo, têm uma mecânica mais de construção, e a gente queria que as pessoas se sentissem na pele de quem estava ali defendendo o território”, afirma ao TechTudo.

Essa defesa se dá em ondas, e os adversários vão ficando mais poderosos conforme você vai superando as fases. A princípio, é necessário eliminar 15 invasores para passar à próxima onda. Esses inimigos são representados por robôs futuristas e outros soldados, sem uma caracterização humana de fato – com exceção do vilão principal, que fica nos pontos de partida dos invasores, e é representado por um homem branco que remete aos fazendeiros escravocratas da época.

Já no Modo Exploração, você caminha livremente pelo Quilombo conhecendo a história do local. Zumbi e Dandara ficam na frente da Casa Central com uma caixa de texto apresentando o local e você pode entrar nos locais para achar outros boxes com mais história. Há também um moinho, plantações e outras regiões interessantes pelo mapa.

A construção do Quilombo de Palmares no game é um dos pontos-chave da experiência, já que o desenvolvimento teve como base o próprio Parque Nacional de Palmares, onde um dia já foi o Quilombo defendido por Zumbi. Além do fator histórico em si, há uma importância ancestral no local, que foi palco de uma das maiores resistências pretas do Brasil.

Segundo Juliana Gonçalves, do Bioma Comunicação Ancestral, o projeto funcionou como uma forma de financiar e colocar o jogo em prática enquanto proposta contra-colonial que ele é, ajudando inclusive a gerar interesse dos jovens em um dos grandes heróis brasileiros. A iniciativa, parte da Preta Hub, tem um trabalho em conjunto com organizações sociais, jornalistas e comunicadores em geral para trazer uma “cultura atual, mas considerando saberes e territórios ancestrais”.

Para criar o mapa, houve uma imersão da equipe de desenvolvimento, assim como foram contratadas historiadoras negras para falar com a devida propriedade sobre o tema. Segundo Alexandre, o desafio foi dar autenticidade para a história – sobretudo em um game como Fortnite.

“Tiveram historiadoras negras validando a reconstrução, tem cutscene que apresenta os personagens… A gente também contratou atores do Norte e Nordeste para fazer as vozes de Zumbi e Dandara. É importante dar essa contextualização, porque Fortnite é um jogo com Mickey e Homem-Aranha numa ilha andando de Skate, e a gente tinha uma história para contar. O desafio é que você entre no jogo e sinta que está em Palmares, que a história te envolva.”

E essa imersão prometida pelo jogo acontece, de fato, mesmo que para um momento de descontração. Segundo Cristiano Tostes, um dos sócios da Salve Games que também participou do papo, essa experiência é importante, sobretudo, para os jovens que podem ser alcançados com o mapa. “É um ecossistema muito rico dentro do jogo, com a possibilidade do modo exploração… isso pode enriquecer tantos jovens que a gente não faz ideia. A diversão aliada ao conhecimento é o que dita as regras”, afirmou na conversa. Ele também foi parte da equipe que foi ao Parque Nacional de Palmares, o que classifica como “um sonho”.

“Tive a oportunidade de conhecer a Serra da Barriga, o Quilombo em que todo mundo viveu… (é incrível) essa aproximação com a nossa história e conhecer o território explorado na época, a dificuldade para chegar e o tamanho. Ver quão grandioso e como a noção da liberdade se dava através daquele lugar. Foi uma experiência ‘animal’ conhecer mais da nossa história e realizar um sonho: todo negro no Brasil tem um sonho de pisar no Quilombo de Palmares.”

A conversa com Alexandre, Juliana e Cristiano aconteceu durante a Feira Preta, evento realizado pela Preta Hub, por chamada de vídeo. O festival aconteceu nos dias 3, 4 e 5 de maio no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, e marcou as primeiras 24 horas em que o jogo ficou disponível para o público. De acordo com Alexandre, a recepção foi um sucesso, com experiências de pais e filhos jogando juntos e números expressivos para um primeiro momento.

“Antes de divulgar, já tinham mais de mil pessoas jogando. Nas primeiras 24 horas, foram mais de 2 mil partidas, e só então começou a divulgação do trailer, o lançamento em si… teve uma adesão forte do próprio público dentro do Fortnite. Agora é divulgar, levar para as escolas e tá aqui na Feira Preta, no Ibirapuera.”

Essa proposta de levar o game a escolas pelo Brasil já foi testada por Salve e Preta Hub. O projeto chegou a ser exibido para crianças de escolas em Manaus e em Fortaleza, e a ideia é chegar a outras cidades do país para transformar Zumbi dos Palmares em “material de sala de aula”, despertando o interesse de crianças e jovens no tema.

De acordo com Alexandre, esse é apenas o começo do projeto, e a ideia é desenvolver mais o modo educacional do game, assim como trazer outras histórias contra-coloniais do Brasil, envolvendo quilombos, guerras indígenas e mais momentos importantes para a formação do país. “Tem muita coisa para contar que a juventude não sabe ou não tem tanto conhecimento… É só um começo”, garantiu.

Sobre as informações no game, alguns aspectos chamaram atenção. Não há, por exemplo, datas históricas envolvendo o Quilombo, assim como não aparecem nomes de invasores conhecidos ou detalhes da criação de Palmares e da chegada de Zumbi. Alexandre afirma que se trata de uma adaptação de linguagem, e a ideia é mais focada no entretenimento e na aproximação com o tema.

“Acho que, para uma informação histórica mais robusta, a pessoa vai buscar livro, materiais em que isso pode ser colocado de forma mais completa. O jogo serve para despertar o interesse sobre o tema, mas acho que, como informação histórica a ideia é que o game desperte a atenção e o interesse em se informar bem sobre tudo, ler livros, ver filmes e completar seu conhecimento”

Para uma narrativa mais densa envolvendo a história de Zumbi e do Quilombo de Palmares, assim como de Dandara, talvez fosse necessário ter outra plataforma disponível. A equipe por trás do game afirma que a proposta segue o formato de Fortnite. Mas, pelo que foi dito, há a ideia de fazer um título histórico, com detalhes e um foco mais narrativo. “Em Zumbi dos Palmares a gente quis trazer uma proposta mais multiplayer, modos diferentes e narrativas diferentes”, concluiu o diretor da Salve Games.

Agora, com o jogo disponível, fica a expectativa pela presença em escolas e também nas gameplays de jovens pelo país. Zumbi dos Palmares pode ser acessado em qualquer plataforma em que Fortnite está disponível e a ideia é que uma grande atualização chegue ao mapa em 20 de novembro, dia da Consciência Negra e também do herói nacional que recebe sua primeira grande homenagem no mundo dos games.