A semana termina no mercado financeiro com uma piora brusca e inesperada dos ativos financeiros.
O que disparou as perdas foi o medo de novas medidas consideradas “contabilidade criativa” nas contas públicas.
O governo atrasou a entrega do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas nesta sexta-feira (20), prometendo os dados para início da noite, acionando gatilhos de proteção no mercado.
Desde que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi aprovada em maio de 2020, todos os órgãos envolvidos no preparo do Relatório sabem que o prazo para publicação é no máximo dia 22 dos meses de fechamento.
O atraso na divulgação da 4ª edição do ano foi visto como um sintoma claro de dificuldade do governo fechar as contas e apresentar as soluções para cumprir a meta de déficit zero este ano.
Quando saiu a notícia do atraso, o mercado começou a piorar imediatamente.
Segundo gestores e economistas do mercado ouvidos pelo blog, a primeira leitura foi de que o bloqueio de gastos que o governo vai apresentar será menor do que todo mundo espera.
“Daí o medo da contabilidade criativa”, disse um experiente executivo.
A divulgação do relatório era esperada até as 19h, mas até a publicação desta nota não havia saído ainda.
Fontes ouvidas pela coluna disseram que as equipes da Fazenda e do Planejamento ficaram divididas entre divulgar todos os dados já nesta sexta-feira ou liberar apenas alguns detalhes, como o valor do bloqueio.
Os que defendem a liberação total querem dar ao mercado a chance de olhar bem os números durante o fim de semana e aguardar a coletiva na próxima segunda com mais informações.
O pior desempenho da sexta-feira foi do dólar que subiu 1,78%, cotado aos R$ 5,52, devolvendo quase toda melhora provocada pela queda do juro nos Estados Unidos e alta da Selic aqui no Brasil.
A curva de juros também sofreu forte ajuste nos contratos mais longos, com DIs com vencimento em 2028 passando de 12%.
E o Ibovespa caiu 1,55%, quase perde os 133 mil pontos, na contramão das bolsas internacionais que fecharam mistas, mais próximas da estabilidade.
Operadores relevantes do mercado brasileiro explicaram que a disparada do dólar foi provocada por forte procura por hedge dos investidores internacionais que voltaram a comprar ativos brasileiros com a expectativa de alta da taxa Selic, confirmada pelo BC esta semana. Os gestores locais também resolveram se proteger e não apareceu vendedor de dólar no mercado.