O termo “limpeza étnica” está sendo cada vez mais usado para se referir à situação no norte da Faixa de Gaza, disse nesta segunda-feira o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, em uma publicação no X. Há pouco mais de um mês, as forças israelenses sitiaram áreas no norte do enclave para impedir o reagrupamento do grupo terrorista Hamas. Na semana passada, os militares afirmaram que se aproximam do “esvaziamento completo” da região e que os moradores não terão permissão para voltar para casa, informou o jornal britânico Guardian.
“As palavras ‘limpeza étnica’ são cada vez mais usadas para descrever o que está acontecendo no norte de Gaza. A realidade diária do deslocamento forçado viola o direito internacional”, escreveu Borrell na publicação, condenando “veementemente” também os últimos bombardeios israelenses em Jabaliya, norte do território palestino. No domingo, a Defesa Civil Palestina informou que “pelo menos” 25 pessoas foram mortas, incluindo pelo menos 13 menores, em um bombardeio a uma casa em Jabaliya. Outro bombardeio israelense atingiu uma casa na Cidade de Gaza, também no norte, e deixou cinco mortos, acrescentou.
Nesta segunda-feira, repórteres da rede catari al-Jazeera informaram que um ataque com drones israelenses novamente contra o campo de Jabaliya deixou um morto e um ferido. Um ataque separado matou outro palestino, desta vez a oeste da Cidade de Gaza, perto do hospital al-Shifa, também no norte.
Cúpula
Os países árabes e muçulmanos também condenaram o que descreveram como “genocídio” e os “crimes horrendos” cometidos pelo Exército israelense em Gaza, ao final da cúpula conjunta da Liga Árabe e da Organização de Cooperação Islâmica na Arábia Saudita sobre a situação no Oriente Médio.
No comunicado final da cúpula, os países também denunciaram a tortura, as execuções, os desaparecimentos e o que classificaram como “limpeza étnica” no território palestino. O texto pediu ainda a “proibição da exportação ou transferência de armas e munições para Israel“, bem como a “condenação dos ataques contínuos das autoridades israelenses e seus representantes contra a ONU e seu secretário-geral”, António Guterres.
A declaração cita, em particular, as restrições impostas aos funcionários que buscam acesso ao “território do Estado da Palestina”.
Fome como ‘arma de guerra’
O chefe da diplomacia europeia também condenou o que descreveu como “uso da fome como arma de guerra”, afirmando que a ação “é contra a lei humanitária internacional”. Advertiu que, no norte de Gaza, há “uma forte probabilidade de fome”. De acordo com a ONU, Israel vem sitiando todos os 2,2 milhões de habitantes do enclave palestino, a maioria dos quais foi forçada a fugir de suas casas e está passando fome desde o início da guerra.
A rede al-Jazeera informou que os militares israelenses estão impedindo a entrada de alimentos na região norte. O número de caminhões que chegam caiu para 30, o que representa 6% das necessidades dos moradores, afirmou a rede catari.
Balanço do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês) desta segunda-feira afirma que desde outubro as organizações humanitárias enviaram 50 solicitações às autoridades israelenses para acessar as cidades no norte de Gaza. Do total, 33 foram rejeitadas imediatamente, nove foram facilitadas e oito foram inicialmente aceitas, mas enfrentaram problemas no caminho posteriormente.
De 6 de outubro a 31 de outubro, continuou o documento, nenhuma movimentação humanitária foi facilitada pelas autoridades israelenses em Jabalya, Beit Hanoun e Beit Lahiya, algumas das regiões sitiadas. As condições de saúde também são críticas na região, pontuou uma outra atualização publicada no último dia 5, com os hospitais Kamal Adwan atingido duas vezes na semana retrasada, enquanto a entrega de suprimentos do al-Awda foi negada.
Na sexta-feira, o Comitê Independente de Revisão da Fome (FRC, na sigla em inglês), grupo de especialistas que revisa os dados do sistema de Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC), alertou para uma “forte probabilidade” de fome iminente em partes do norte de Gaza, informou o Times of Israel.
O Estado judeu rejeitou a afirmação, dizendo que aumentou os esforços de ajuda, incluindo a abertura de uma passagem adicional. Os militares também afirmaram que deixaram caminhões de ajuda chegarem às áreas de combate e, no sábado, as Forças Armadas afirmaram que entregaram 11 caminhões de ajuda humanitária às regiões de Jabalya e Beit Hanoun.
A guerra em Gaza eclodiu após o ataque terrorista do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual combatentes mataram 1.206 pessoas, a maioria civis, e capturaram 251, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais, que inclui reféns que morreram em cativeiro. Dos 251 reféns, 97 permanecem em Gaza, embora o Exército israelense tenha declarado 34 mortos.
A ofensiva israelense em Gaza já deixou pelo menos 43.603 pessoas mortas, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas desde 2007. A ONU considera os dados confiáveis. Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos publicado na semana passada afirma que mulheres e menores representam quase 70% das mortes.