Pessoas surdas enfrentam dificuldades para realizar provas do Enem; acreanos pedem mudanças

A situação faz com que essa comunidade tenha pouca instrução e um caminho precarizado no mercado de trabalho

Segundo o levantamento realizado pelo Instituto Locomotiva, em 2019, o Brasil contabilizou 10,7 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva, destes somente 15% concluiu o ensino médio e apenas 7% concluiu o ensino superior. A trajetória educacional dessa população, assim como a de boa parte dos brasileiros que sonham em ingressar nas universidades, perpassa o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porém, eles precisam encarar um processo que conta com diferentes complicações.

A prova traz prejuízos para a comunidade que já conta com pouco insentivo na educação. Foto: Reprodução

Desde 2017, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável por elaborar a prova, oferece aos concorrentes surdos a realização do processo com intérprete e video-prova, recurso que apresenta o questionário na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

Elisângela Bonfim, intérprete de libras da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) e atuante na Associação dos Surdos do Acre (Assacre) declara que a acessibilidade do Enem para com as pessoas surdas melhorou ao longo dos anos, sobretudo após o decreto N° 5.225/2005, que assegura a difusão da Libras na educação, mas que a prova ainda apresenta diferentes desfalques que prejudicam os participantes:

“Os surdos não têm curso preparatório para o Enem se não tiver intérprete, agora isso não é um mais um problema nacional, ele é um problema local […]. Tem que ter algum órgão ou secretaria para fazer aulas de pré-Enem e ter o interprete de libras, para que ele possa estudar também”.

Elisângela Bonfim, intérprete de libras da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac)/Foto: Reprodução

Bonfim aponta para o fato de que a forma que a comunidade se comunica é diferente, assim como a própria língua de sinais. Dessa forma, a linguagem da prova deve ser voltada para essas especificidades, assim como a correção que ainda não é feita por uma banca especializada. É o que reforça Ana Cunha, membra do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

“A pessoa com surdez é alfabetizada em Libras e na hora do Enem vai fazer a prova que está escrita em português […]. O equívoco do Instituto é disponibilizar apenas o intérprete e não adequar a prova […]. Ele pode ter alguns erros que não é erro de português, é equívoco, porque o idioma libras não tem alguns artigos, advérbios. É como se nós ouvintes fôssemos obrigados a fazer prova em espanhol ou inglês, sem nem ter sido alfabetizado nesses idiomas”, esclareceu.

O assistente administrativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Rivelino Nascimento, 24 anos, é deficiente auditivo e já fez a prova em 3 edições, incluindo a última realizada nos dias 3 e 10 de novembro de 2024. Ele declara que apesar dos recursos ofertados, sente dificuldades, principalmente na escrita.

Rivelino tem esperanças de fazer uma prova mais acessível/Foto: Reprodução

“Não consegui discorrer o restante do tema, mas foi uma outra tentativa que eu fiz, apesar de que o tema era bom, poderia ter feito, mas infelizmente não consegui pela pontuação. A questão da Língua Portuguesa para os surdos ainda é muito complicada, a escrita, mas eu tenho esperança de conseguir passar”, afirmou em um vídeo.

A situação faz com que essa comunidade tenha pouca instrução e um caminho precarizado no mercado de trabalho, é o que diz Ana Cunha: “A barreira comunicacional os deixam vulneráveis e sem o acesso a uma carreira no mercado, ficando às vezes a vida toda em um único posto de trabalho”.

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