Seis meses antes de ser assassinado a tiros no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos (SP), na tarde desta sexta-feira, o empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach afirmou em entrevista que foi alvo de “pessoas que orquestraram um plano” para matá-lo. Corretor de imóveis, ele foi jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), já tendo sido vítima no passado de um sequestro que teria sido orquestrado pelo grupo criminoso.
A facção o acusou de ter desviado R$ 100 milhões da organização e de ter ordenado a morte do traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e do motorista dele, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue. Os valores teriam sido entregues pelo criminoso a Gritzbach para que fossem investidos em criptomoedas. Com a morte do traficante, ocorrida em 2021, o PCC chamou o corretor de imóveis para “conversar” na casa de um integrante do grupo.
— Era uma relação de cliente (com o Anselmo). Não desconhecia esse apelido (Cara Preta). Era uma pessoa do bem. A minha atribuição era intermediar a compra e venda de imóveis. (Ele me procurou e disse) que queria investir. Fez uma compra de R$ 12 milhões. Ele era uma pessoa que tinha família, que frequentou o escritório algumas vezes. Não tinha inimizade, descontentamento (entre nós) — disse em entrevista ao Domingo Espetacular, da TV Record.
O corretor de imóveis também foi questionado sobre como recebeu a morte de Anselmo e Antônio:
— Não foi fácil porque eram clientes. Em momento algum (achei que seria acusado). Não mandei matar ninguém. Eu não tive participação nenhuma. Em nenhum momento o Anselmo me incomodou. (Estou sendo acusado injustamente) porque talvez teria um plano deles que deu errado e eu não morri. Pessoas que orquestraram um plano de me matar.
‘Tribunal do crime’
Gritzbach descreveu ter ficado em poder da facção por 9 horas durante um “tribunal do crime”, em depoimento prestado às autoridades. Ele foi liberado sob a promessa de que iria reaver o montante, mas acabou preso e decidiu contar o que sabia. Em setembro de 2023, a defesa do homem ofereceu uma delação premiada ao Ministério Público de São Paulo, homologada pela Justiça em abril deste ano.
Na delação, Gritzbach acusou também dirigentes ligados a empresas que agenciam jogadores de futebol de terem lavado dinheiro do PCC. Um dos envolvidos é Danilo Lima de Oliveira, o Tripa, da Lion Soccer Sports.
Tripa seria um dos presentes no sequestro de Gritzbach, no qual o delator relatou ter sido torturado. Segundo Gritzbach, ele era o mais violento entre os sequestradores. Tripa teria mandado o corretor ligar a familiares para se despedir e ameaçou esquartejar a vítima. A empresa da qual Danilo Oliveria é sócio agencia jogadores da Série A do Campeonato Brasileiro.
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi executado a tiros no fim da tarde desta sexta-feira. Outras três pessoas foram baleadas no ataque. Os atiradores do local em um Gol preto, que foi abandonado nas imediações do aeroporto e depois localizado pela polícia.
— É uma situação em que ele (Gritzbach) estava exposto ali, vinha sendo ameaçado. Ele, nas duas vezes em que nós falamos com ele, acreditava que era alvo de integrantes do crime organizado. Porque ele é confesso em falar que agiu lavando dinheiro para o PCC. Já era alvo de processo junto ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) por essa lavagem de dinheiro. Ele sabia muita coisa do PCC, sabia onde estavam colocando esse dinheiro — disse Ivalda Aleixo, diretora do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em entrevista ao Brasil Urgente.