O marqueteiro João Santana afirmou nesta segunda-feira (26), em sua primeira entrevista após fechar acordo de delação premiada na Lava-Jato, que o caixa dois sempre fez parte da alma do sistema político brasileiro. Em entrevista ao programa Roda Viva, Santana também defendeu a honestidade dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, apesar de os ter acusado nos depoimentos que prestou.
— A caixa dois é uma coisa que domina. O caixa dois foi sempre a alma do sistema eleitoral brasileiro. E era uma coisa geral. E poucos foram punidos.
Em outro momento, disse que o caixa dois atinge 99,9% dos marqueteiros e dos políticos do país.
Santana ainda cumpre pena em regime aberto pelo crime de lavagem de dinheiro e usa tornozeleira eletrônica. O marqueteiro exibiu no programa um visual diferente dos tempos em que fazia campanha para candidatos do PT, com cabelo comprido, barba e brinco.
Ao ser questionado se ao ajudar a passar nas propagandas a imagem de que Lula e Dilma eram honestos, ele não teria incorrido numa falha moral, respondeu:
— Não via desonestidade no sentido do uso pessoal. Era um uso de fundo eleitoral. É uma discussão complicadíssima. Mas em nenhum momento, eu falei de ula e Dilma como pessoas que fossem desonestas.
O marqueteiro rebateu as acusações da ex-presidenciável Marina Silva de que foi vítima de fake news em 2014 por parte da campanha petista.
— Era uma peça de exagero retórico — afirmou Santana, rebatendo comparações com as práticas adotadas na campanha de 2018 de ataques nas redes sociais contra adversários do presidente Jair Bolsonaro.
Numa propaganda daquela campanha, a proposta de Marina de formalizar a autonomia do Banco Central era transformada em retirada de comida da mesa dos trabalhadores.
Santana ainda se justificou por causa de um comercial da campanha para a prefeitura de São Paulo, em 2008, em que questionava se o então adversário de sua candidata Marta Suplicy, o então prefeito Gilberto Kassab, era casado e tinha filhos.
— Esse comercial é o maior erro técnico da minha vida
O marqueteiro também acusou Lula, às vésperas da eleição de 2014, de ter desestabilizado o governo Dilma. Santana afirma que era íntimo dos dois ex-presidentes.
— Uma das coisas que ajudaram na desestabilização da Dilma foi o lula
De acordo com Santana, Lula não era claro, mas insinuava que gostaria de disputar a eleição de 2014 e falava mal das medidas da então presidente.
O marqueteiro avalia que Lula não poderia mais ser candidato a presidente da República.
— O Lula é um personagem que não perde nem ganhar. Se perder, afunda mais a ele e o PT. Se ganhar, aprofunda essa polarização e não conseguiria governar. Lula seria o melhor perfil para vice.
Santana acredita que uma chapa com Ciro Gomes como candidato e Lula como vice seria imbatível, embora considere inviável que isso se concretize.
No final do programa, ao ser indagado se havia mentido quando desmentiu, antes de ser pego pela Lava-Jato, as acusações de que recebia por meio de caixa dois, inicialmente negou, mas no meio da resposta afirmou:
— Todo mundo mente. A mentira é um privilégio, é quase um prazer humano. [Capa: Reprodução]
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