A jovem ativista indígena Txai Suruí, voltou ao Brasil e em entrevista ao g1 afirmou que recebeu ameaças presenciais ao chegar em Rondônia. Ela já havia sido agredida virtualmente após ser alvo de ataque do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), logo depois do discurso na abertura da Conferência da Cúpula do Clima (COP26), na Escócia.
“Querendo ou não é triste, mas a gente cresceu com isso. Meus pais foram a vida inteira ameaçados. A gente já teve que ser escoltado pela Força Nacional algum tempo. A minha mãe durante a pandemia estava sendo ameaçada de morte e não podia ficar em Porto Velho”.
Filha do cacique Almir Suruí e da ativista Ivaneide Bandeira, a jovem indígena Txai decidiu seguir na trilha de determinação dos pais em luta pela preservação dos povos indígenas e contra o desmatamento da Amazônia, mesmo sob ameaças.
Grande parte dos ataques ainda acontecem nas redes sociais. Txai comentou que isso pode ocorrer porque as pessoas acham que “internet é uma terra sem lei”.
“Não vou mentir dizendo que muitas vezes não dá medo […] mas eu não posso parar de falar, porque os ataques por quem luta pelo meio ambiente vão continuar, então eu tenho que usar minha voz e a visibilidade que eu tenho agora para denunciar o que está acontecendo para o mundo”, afirmou.
‘Visão colonizadora’
Txai discursou na abertura da COP26 diante de líderes mundiais como o premiê britânico, Boris Johnson, e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e foi ouvida pelo mundo todo. Em entrevista, a indígena contou que o Brasil é visto de forma negativa pelos outros países por sua política antiambientalista, mas que seu discurso mostrou ao mundo que há esperança na preservação da Amazônia.
“O Brasil está muito mal visto internacionalmente por toda essa política antiambientalista que vem praticando. Então ouvir uma voz que fala de esperança, que fala que a gente consegue reverter essa crise e que os povos indígenas fazem parte dessa salvação, faz o mundo acreditar um pouco no Brasil e mostra que aqui ainda existem pessoas que têm compromisso com agenda climática e que o Brasil não é só destruição da Amazônia”, falou.
Apesar do discurso ter tido grande repercussão no mundo, Txai sofreu ataques por ter discursado em inglês. Segundo ela, isso reflete preconceitos culturais da época em que o Brasil foi colonizado.
“As pessoas têm no imaginário delas de que o índio tem que ser do jeito que elas querem, ainda em uma visão colonizadora. As pessoas não pensam, por exemplo, que qualquer criança indígena fala pelo menos duas línguas hoje em dia, que é a língua do nosso povo e o português. A gente já nasce bilíngue. E quem aqui na cidade já nasce bilíngue? Quem fala duas línguas aprende três fácil”, disse.
Juventude como símbolo de resistência
Txai é fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, que desenvolveu uma vaquinha online para custear a passagem dos integrantes à Escócia para a conferência. Segundo a ativista, o Brasil teve a maior delegação de jovens da história da COP26.
Essa participação da juventude nas decisões sobre o clima e meio ambiente, para Txai, é um símbolo de resistência.
“Durante muito tempo as pessoas tratam a juventude como ‘você ainda é muito novo’, ‘você não sabe o que está falando’. Só que a verdade é que a gente já está sofrendo com o que está acontecendo. A juventude não está lutando só pelo futuro, a gente entende que estamos lutando pelo nosso presente, pelo nosso agora“.
“A nossa geração cresceu durante um período de desesperança. A gente cresceu na instabilidade política. A gente vê o que está passando durante esses dois anos no Brasil, onde tem desemprego, milhões de pessoas passando fome e fazendo fila para comprar osso. Isso é onde os jovens do Brasil estão crescendo agora. Então acho que o maior símbolo de resistência são os jovens lutando por isso”, finalizou.