Netos viralizam ao presentear a avó de 92 anos com livro de memórias

Família criou estratégia para combater o esquecimento da idade e preservar as histórias de vida da baiana Zuleide Leal

Acervo Pessoal/Vanessa Melo

A aposentada Zuleide Leal, 92 anos, de Salvador (BA), sempre teve o raciocínio afiado. Recentemente, porém, ela tem apresentado os primeiros sinais de esquecimento: Zuleide desenvolveu demência pela idade avançada. A solução proposta pelos netos foi combater a perda das memórias registrando por escrito a vida da aposentada.

Segundo uma das netas, a psicóloga Vanessa Melo, de 26 anos, o processo de escrita tem sido importante para toda a família. “Ele permite que a gente enfrente a finitude da minha vó, que um dia vai vir. Mas também a ajuda, já que ela própria está contando sua história. Virou uma possibilidade de voltar a se conhecer e se lembrar de quem ela é”, aponta a neta.

Vanessa compartilhou no Twitter fotos da avó preenchendo o caderno e rapidamente o post viralizou. “Estou feliz, agora com 92 anos dei para ficar famosa”, afirma Zuleide ao notar a repercussão da história.

Quem vê Zuleide preenchendo as páginas do livro de perguntas sozinha, não imagina que ela inicialmente resistiu à ideia. Ao ver o tamanho do livro, a idosa pensou que não conseguiria escrevê-lo sozinha, mas aos poucos ela foi vencendo as barreiras. Ao ver que as perguntas propostas para estimular memórias, como “quais passeios você fazia com sua família?”, a escrita fluiu.

“Comecei ajudando, fazendo as perguntas e ela foi escrevendo aos poucos. Quando vi, ela já estava continuando tudo sozinha e escreveu seis páginas em uma tarde só. Foi bonito ver ela enfrentando as dificuldades de memória e de funcionalidade da coordenação motora para ir escrevendo ali tudo que lembrava”, conta a neta.

Foto mostra a idosa Zuleide Lea, que ganhou um livro para escrever suas memórias - Metrópoles

Acervo Pessoal/Vanessa Melo

Foto mostra a idosa Zuleide Lea, que ganhou um livro para escrever suas memórias - Metrópoles

Acervo Pessoal/Vanessa Melo

Escrever memórias pode combater a demência?

A escrita pode ter um papel terapêutico para idosos. Para o psicólogo Jayme Rabelo, de Brasília, o exercício de transformar em palavras as experiências da vida é importante para todas as pessoas. “Apesar de parecer automático, é muito complexo o exercício da escrita porque a gente precisa correlacionar as palavras de uma maneira lógica e estruturada, o que pode ser muito desafiador”, diz ele.

O profissional esclarece que a ação é ainda mais importante para quando aparecem os primeiros sinais de demência, como Vanessa relata observar na avó. “Escrever pode atenuar ou evitar o aparecimento dos primeiros sinais da doença. Além disso, ajuda a diminuir a frustração e a agitação de perceber que se está esquecendo, então a pessoa se sente no controle e afrontando estes sintomas ao por as memórias por escrito”, explica.

Para as familiares, além de pensar na melhora da avó, também há o benefício de tê-la sempre por perto. “Acho bonito que vamos ter, como familiares dela, sempre esse registro, com ela usando as próprias palavras para dizer como era, como enxergava as suas memórias. É um tesouro”, resume Vanessa.

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