25 de abril de 2024

A infância urbanizada: Como as crianças se posicionam

Prédios em Águas Claras

Viver em grandes cidades pode trazer uma série de vantagens:  água encanada e tratada, luz elétrica, saneamento, facilidade de locomoção, maior possibilidade de emprego e renda, escolas, creches, hospitais e seus prontos-socorros, comércio…e tantas outras.

Muitos migram para regiões urbanas em busca do sonho de “melhores” condições de vida. Mas a realidade pode distorcer um pouco este sonho e apresentar um cenário onde estas “facilidades” existem, mas a garantia do acesso a elas nem sempre é factível e, quando o é, a qualidade destes “serviços” pode deixar muito a desejar.

As moradias podem não apresentar condições ambientais satisfatórias, muitas se situam em áreas de risco social intenso, a locomoção é precária e exaustivamente demorada, o emprego é escasso e exigente, as áreas de lazer são raridade,  as escolas e creches são lotadas e com qualidade pouco satisfatória, o acesso à saúde exige muita saúde para esperar um atendimento de qualidade e conseguir um leito hospitalar digno para um doente é quase um sonho impossível.

E as crianças? Como se posicionam neste contexto?

Esta urbanização caótica e desumana interfere diretamente no crescimento e desenvolvimento dos pequenos. Não só os que nascem em segmentos menos favorecidos: afeta, sim, crianças de todos os níveis sociais, econômicos e culturais.

Claro está que os menos favorecidos enfrentam problemas muito mais crônicos e essenciais como o quase impossível acesso à moradia, transporte, saúde e educação de qualidade razoável.

No entanto, de uma forma geral e para todos, os espaços urbanos saudáveis se restringiram significativamente. Isso pode comprometer o desenvolvimento físico e mental dos pequenos e, consequência imediata, comprometer a infância e o futuro adulto.

Vamos a três exemplos práticos do efeito da urbanização desorganizada na infância:

1. Aumento significativo das incidência das doenças respiratórias. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 80% das pessoas que vivem em grandes cidades respiram um ar com qualidade abaixo dos padrões considerados aceitáveis. A poluição atmosférica urbana, gerada essencialmente por excesso de carros e escassez  de áreas verdes faz com que as crianças de São Paulo, por exemplo, tenham em média 5-7 episódios de infecções respiratórias por ano. As doenças respiratórias estão entre as principais causas de óbito de crianças com menos de 5 anos de idade. Em todas as classes sociais.

2. Aumento preocupante das taxas de obesidade. Mais de um terço das crianças de 5a 9 anos de idade da região sudeste do Brasil está com  sobrepeso. A agressividade do trânsito e a violência urbana restringem a possibilidade de brincadeiras ao ar livre,  que demandam maior gasto de energia. A alimentação de menor qualidade nutricional associada a um estilo de  vida mais sedentário é uma realidade para os pequenos. Em todas as classes sociais.

3. Institucionalização mais precoce. Crianças urbanas vão muito mais precocemente para creches e berçários. A inserção das mulheres no mercado de trabalho, necessária para as famílias como força economicamente ativa, faz com que bebês de 4 a 6 meses, terminada a licença gestação, sejam matriculados em creches ou berçários em tempo integral. O vínculo afetivo estabelecido com pais, mães e cuidadores é fundamental para o desenvolvimento neurológico dos pequenos. Desde que mantidos os vínculos, tudo certo. Se não mantidos, pode ser um problema. Em todas as classes sociais.

A urbanização traz benefícios indiscutíveis e irreversíveis. No entanto, a condição humana não se pode, sob nenhuma hipótese, desfocar neste processo, sob pena de perdermos o que de mais valioso temos: nossa saúde e nossos valores humanos. Em todas as idades e em todas as classes sociais.

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