Com escassez de alimentos, venezuelanos precisam saquear para poder comer

De dentro da sufocante cabine de um caminhão, Carlos Del Pino presenciou como um de seus colegas foi interceptado no meio de uma rua por cerca de 20 pessoas, algumas delas armadas, que o obrigaram a parar o veículo cheio de milho a granel para saqueá-lo.

Venezuelanos tentam saquear caminhão carregado com arroz na cidade de Puerto Cabello/Foto: AP Photo (Fernando Llano)

Em meio à crise, as centenas de estradas que atravessam o país de um extremo ao outro se transformaram no lugar favorito para que povoados inteiros e grupos de delinquentes saqueiem a carga de veículos que se acidentam ou sofrem algum tipo de pane.

De dezembro a janeiro, foram reportados ao menos quatro incidentes diários de caminhoneiros que foram assaltados ou saqueados em estradas, disse Emidio Palumbo, presidente da Câmara de Transporte Pesado do Estado Costeiro de Vargas.

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“Eles têm que saquear para comer”, afirmou. Os saques esporádicos e os protestos por falta de alimento, realizados por pobres que passam fome, aumentaram vertiginosamente nas últimas semanas na Venezuela, país onde os tumultos se tornam cada vez mais comuns.

Para o sociólogo e pesquisador Carlos Aponte, os saques registrados atualmente no país são muito diferentes dos ocorridos em 1989, que deram origem ao episódio conhecido como “Caracazo”, quando cerca de 300 pessoas morreram durante repressão de forças de segurança a eventos deste tipo na capital venezuelana.

Para Aponte, os saques dos últimos meses ocorrem no contexto de uma deterioração econômica e social “substancialmente mais séria” do que a ocorrida em 1989.

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