Amazônia é maior do que registro em mapa, diz pesquisa da Ufac e outras duas federais

É da região conhecida como Arco do Desmatamento e, mais especificamente, do município de Nova Xavantina (MT) que vem a descoberta: a Amazônia é uma região maior que a indicada nos mapas oficiais. O estudo, publicado recentemente na revista científica “Biodiversity and Conservation”, é fruto do trabalho de pesquisadores de três universidades brasileiras, incluindo a Ufac.

Com o título “Redefining the Cerrado-Amazonia Transition: Implications for Conservation” (Redefinindo a transição Cerrado-Amazônia: implicações para conservação), o trabalho foi desenvolvido a partir de amplo mapeamento de imagens de satélite. Além de identificar a má interpretação e deturpação dos limites do bioma amazônico na cartografia oficial, a pesquisa sugere, ainda, que a área de transição da floresta amazônica com o Cerrado é mais rica em biodiversidade que cada região em separado.

Henrique News, professor da Ufac/Foto: ascom

Através dos dados foi possível concluir — explica o professor do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da Ufac, Henrique Mews, doutor em Ciências Florestais/Conservação da Natureza e coorientador da pesquisa que resultou no artigo — que a divisão entre os dois maiores biomas da América do Sul não é uma linha, mas uma faixa que pode variar de 40 a 250 quilômetros de largura.

“Trata-se de um ambiente complexo, meândrico e interdigitado, com uma mistura bem complexa de savana, floresta densa e floresta ecotonal, ou seja, aquela típica do encontro de dois tipos de ambientes. É uma área ampla em extensão e rica em biodiversidade”, analisa.

Segundo ele, para o estudo, que é fruto da dissertação de mestrado de Eduardo Marques com orientação de Ben Hur Marimon-Junior, foram analisadas imagens do intervalo de três décadas, de 1984 a 2014, e observado o que Mews classificou como “o mais triste”: ao longo dos anos, a transição Cerrado-Amazônia foi a que mais sofreu, em termos proporcionais, os impactos do avanço da fronteira agrícola e do consequente desmatamento.

“Aqui observamos duas coisas. A primeira é que a tecnologia utilizada para mapear os limites geográficos dos biomas na década de 1970 era bem inferior às que utilizamos hoje, o que pode ter contribuído para que muitas das áreas fossem consideradas Cerrado, quando eram, na verdade, Amazônia”, detalha Mews. “Segundo, que quando analisamos as áreas individualmente, observamos que é a faixa de transição Amazônia-Cerrado a que mais sofreu com os impactos da ação humana. O fato é que a Amazônia possui leis de proteção mais rígidas, de modo que, ao deixar de ser considerada território amazônico, a área ficou mais vulnerável ao desmatamento a ponto de termos que analisar imagens mais antigas, porque hoje pouco sobrou da vegetação natural.”

Prof. Dr. Henrique Mews

Mesmo sem conseguir precisar o quanto a Amazônia pode ser maior do que o registro oficial, Mews acredita que seja importante tomar o estudo como base para elaboração de uma nova proposta de demarcação dos limites geográficos dos biomas Amazônia e Cerrado.

“Áreas de transição são importantes porque funcionam como barreira de proteção. Nesse caso, observamos que a Amazônia encontra-se vulnerável, porque essa barreira foi invadida graças a um equívoco técnico do passado que precisa ser corrigido. Ameaçar o maior bioma brasileiro é ameaçar a humanidade”, conclui o especialista.

O desenvolvimento da pesquisa “Redefining the Cerrado-Amazonia Transition: Implications for Conservation” conta com a participação da Ufac e de equipes do Laboratório de Ecologia Vegetal da Universidade do Estado do Mato Grosso, do Laboratório de Geoprocessamento e do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília.

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