Nenhuma série jamais entrou em produção com um preço tão alto: pelo menos 1 bilhão de dólares. Isso é o que – por baixo – a Amazon vai investir nas duas primeiras temporadas, de um total de pelo menos cinco, de seu O Senhor dos Anéis. Só pelos direitos, a plataforma pagou o recorde de 250 milhões de dólares. E, assim mesmo, teve de concordar com algumas regras bem rigorosas impostas pelos herdeiros do autor J.R.R. Tolkien: vai ter de seguir com fidelidade as linhas do tempo e tramas que ele estabeleceu em seu vários escritos sobre o tema (uma ótima notícia para os fãs mais zelosos), e tem de estrear em pelo menos dois anos (o que evita enrolação e desistência). Outras coisas que se sabe com certeza até aqui: hoje o americano Will Poulter, de Detroit, O Regresso e Midsommar, foi escalado para um papel ainda não revelado, assim como o da australiana Markella Kavenagh, recrutada algumas semanas atrás; a história vai se passar – ou pelo menos começar – na Segunda Era da Terra Média, período anterior à Terceira Era em que transcorre a trilogia de Peter Jackson; e a Nova Zelândia, novamente escolhida como locação principal, está em polvorosa com a chegada iminente desse circo, que deve movimentar seus negócios com intensidade igual ou maior que a filmagem da trilogia.
A Segunda Era é um período que o cinema e a TV ainda não exploraram. É o trecho da história em que os anéis do poder – inclusive o anel de Sauron – foram forjados, e em que Sauron foi derrotado (não para sempre, como se sabe) pela Última Aliança dos Homens. A série, portanto, levará o espectador a locais que ele nunca teve chance de ver recriados, como a ilha de Númenor, que tem papel de destaque nos acontecimentos. A confirmação de que essa é a fase escolhida veio nos mapas que a Amazon divulgou meio de surpresa em março: na Terceira Era, Númenor já não existia mais; foi para o fundo do mar na terrível batalha contra Sauron.
Uma das implicações da escolha é que provavelmente nenhum dos personagens mais conhecidos do público estará na série, uma vez que eles estão a centenas ou até a milhares de anos de nascer. Gandalf é a exceção possível: os magos de Tolkien vivem por séculos, e nada impede que ele participe dessa trama. Ian McKellen, que imortalizou o personagem, já andou no Twitter avisando que só não disse “sim” porque ninguém ainda o convidou – mas deu a entender que não passaria Gandalf de boa vontade a algum outro ator. Sobre Aragorn, ainda pairam dúvidas. Inicialmente, especulou-se que a série acompanharia a juventude do rei exilado e aventou-se o nome do inglês Tom Payne, o Jesus de The Walking Dead, para o papel. Mas a linha do tempo agora confirmada exclui essa possibilidade por pelo menos algumas temporadas: também os homens da linhagem de Aragorn vivem muito, mas um Tolkienmaníaco calculou que faltariam ainda 931 anos para ele entrar em cena. Os nomes decisivos, entretanto, já são conhecidos: os da equipe de criação e produção, que incluem gente vinda de Game of Thrones e de Breaking Bad, mais o diretor J.A Bayona, de O Impossível e Jurassic World: Reino Ameaçado. Peter Jackson seria bem-vindo, diz a Amazon, nem que seja só para dar uma bênção. Governando todos eles estará Tom Shippey, um especialista em Tolkien de credenciais impecáveis.