Não há motivo para pânico em relação às novas variantes do coronavírus’

O virologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Amílcar Tanuri afirma que não existe motivo para pânico em relação às novas variantes do coronavírus.

Tanuri é um dos descobridores da variante P2 do Sars-CoV-2, surgida no Rio de Janeiro, e está à frente de testes para investigar o risco real dela e da P1, a cepa de Manaus.

Ele assegura que está confiante na eficácia das vacinas e destaca que, com imunizantes para apenas uma pequena parcela da população, é o momento de intensificar a testagem e o distanciamento.

Qual o risco real das novas variantes do coronavírus?

A resposta honesta que a ciência pode dar é que não há certeza de nada. Mas certamente não existe motivo para medo e pânico.

O medo não gera ações inteligentes, e o pânico imobiliza. A maior parte do que se fala de alarmante até agora é baseado em estudos feitos com vírus recombinantes (a grosso modo, pedaços do Sars-CoV-2 mutante dentro de outro vírus), e a resposta deles é diferente da do vírus natural.

E o que precisa ser feito?

Investigar as variantes naturais do Sars-CoV-2. Há grupos brasileiros fazendo isso. Nós investigamos na UFRJ a variante do vírus que isolamos aqui no Rio de Janeiro, a P2.

Num estudo em colaboração com o laboratório de Marilda Siqueira, da Fiocruz, estudamos também a resposta da P1, a variante de Manaus, e da P2 aos anticorpos.

Há indícios concretos de que essas variantes sejam mais contagiosas?

Há suposições porque tivemos uma segunda onda num momento em que as variantes entraram em circulação.

Mas não se pode esquecer que essas variantes apareceram num momento em que as pessoas infectadas no início do ano começaram a perder sua imunidade natural, sabemos que os anticorpos não duram muito.

Então, não significa que essas variantes se espalharam porque são mais transmissíveis. Elas podem ter se propagado também em função da perda de imunidade.

E como elas surgiram?

Uma hipótese é que tenham surgido em pessoas que sofreram persistência da infecção pelo coronavírus. Sabemos que algumas pessoas ficam mais tempo infectadas, o Sars-CoV-2 pode, por exemplo, persistir no intestino.

Por que só chamam a atenção as variantes originadas no Brasil, na África do Sul e no Reino Unido?

Porque têm mutações numa região importante do vírus. Mas é um fenômeno global. Os EUA acabam de reportar a descoberta de variantes na Califórnia e em Ohio com mutações igualmente preocupantes. Ninguém sabe o que acontece na China e na Índia.

As novas variantes ameaçam em que medida a eficácia da vacinação?

Estou otimista de que quem for vacinado estará protegido das formas graves de Covid-19. Mas a vacina precisa entrar em larga escala para reduzir a chance de as pessoas contraírem a Covid-19. E tem que aplicar as duas doses.

E os tratamentos com anticorpos monoclonais?

Esses, por serem muito específicos e atuarem justamente contra a região do coronavírus alterada nas mutações, podem perder potência. Talvez um tratamento com coquetéis de anticorpos contorne esse problema.

O que precisa ser feito para conter as variantes?
A mesma receita conhecida da pandemia: distanciamento social, uso de máscara, higiene e testagem em massa. Destaco a importância desta última.

Por quê?
Porque testes rápidos de antígenos, mais baratos e simples, podem ser usados em massa e realmente conter casos. A ideia é testar pessoas com sintomas e as que tiveram contato com elas e isolar os casos positivos.

O Brasil nunca testou em massa e precisa fazer isso porque a vacinação não resolverá tudo sozinha.

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