Ela passou por uns maus bocados, mas isso ficou no passado. Resistiu ao tempo e, depois de reformada, a Brasília continua “amarela e de portas abertas”, como dizia Alecsander Alves, o Dinho, vocalista dos Mamonas Assassinas, na canção “Pelados em Santos”.
Atualmente, o carro, eternizado no imaginário popular, está sob os cuidados da família do artista, que o mantém em Guarulhos, São Paulo.
Às vezes marca presença nas ruas da região ou em eventos, matando um pouco da saudade dos fãs da banda, cujos integrantes morreram em março de 1996, há 25 anos, após um acidente de avião na Serra da Cantareira.
A Brasília, aliás, voltou às mãos da família cerca de duas décadas depois o acidente. Ainda em 1996, o veículo fora sorteado no programa do Gugu.
Anos depois, no Rio, a Brasília foi parar num ferro velho, sucateada. Parentes de Dinho, então, recuperaram o veículo em 2015 e iniciaram a reforma para deixá-lo do jeito que era na época da gravação do clipe.
“A gente pegou e remontou. Ao todo, 75% do carro foi preservado. Quando recuperamos a Brasília e trouxemos, remontamos com peças de uma outra Brasília que já existia aqui em São Paulo. Tomamos o cuidado de deixá-la o mais original possível”, explica Jorge Santana, primo de Dinho e um dos responsáveis pela marca Mamonas Assassinas. Para os reparos houve parcerias, como uma empresa de sucatas da região.
Os reparos para deixar o carro próximo ao original tem razão de ser. A Brasília, comprada pelo vocalista de um ex-sogro, havia passado por uma recauchutada bastante particular.
Tudo ideia dde Dinho: os para-choque dianteiro, retirados de uma Uno; o aerofólio traseiro, vindo de outro carro. Até os bancos, cobertos por uma estampa animal print.
“Ele brincava muito. E tudo foi ideia dele. A Brasília foi uma grande brincadeira, assim como ‘pitchula’, (termo que veio) de um primo nosso na Bahia, que falava isso quando via uma menina bonita “, diz Jorge. A Brasília fica guardada na casa da família.
O carro, aliás, estará no filme “O impossível não existe”, que deve ser gravado neste ano e lançado já no ano que vem.
O longa conta a trajetória do grupo, que morreu não muito tempo após ter estourado no Brasil inteiro. As gravações precisaram ser adiadas por conta do período de pandemia.
Dinho será interpretado por Ruy Brissac, que já deu vida ao cantor num musical anos atrás. Uma homenagem, no fim das contas, ao legado dos “Mamonas Assassinas” para os fãs, conforme ressalta Jorge:
“Mamonas era liberdade. O Dinho não ofendia ninguém, tinha uma expertise muito própria para falar sobre as coisas, contar sobre as pessoas. Ele acreditava que seria artista. Dizia que a pessoa não se torna, mas nasce artista”, relembra Jorge sobre o primo.
Enquanto não entra em set para as gravações, a Brasíla continua lá. Alguns fãs vão ao local para vê-la ou mesmo quando dá uma andadinha pelo bairro.
“A nossa ideia sempre foi fazer com que os fãs matassem um pouco da saudade. O mais gratificante é ver algum pai buzinar quando ela passa e mostra para o filho sobre como era quando mais jovem. Para o trânsito. Isso mesmo depois de 25 anos “, conclui Jorge.