Vários remédios vêm sendo testados contra a Covid-19 desde que a doença se alastrou pelo mundo. Um deles, o Tocilizumab, tem mostrado resultados promissores em pacientes em fase crítica, embora a ciência médica ainda não tenha chegado a conclusões sobre seu potencial.
No Acre, infectologistas de renome e que atuam na linha de frente no combate à pandemia chegaram a receitar o medicamento como última alternativa para salvar a vida de seus pacientes.
Acontece que a droga, tradicionalmente usada para tratar artrite reumatoide, não é disponibilizada pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) contra a Covid-19, embora esteja incluída na lista de Assistência Farmacêutica do Sistema Único de Saúde (SUS).
Por conta disso, a prescrição do remédio tem gerado uma corrida desesperada dos familiares dos pacientes pela substância, que pode chegar a custar R$ 30 mil em farmácias online.
Uma mulher que não quis se identificar e que estava com um parente em estado grave acometido pelo coronavírus disse ao ContilNet que um médico receitou o medicamento ao paciente, porém não encontrou o remédio na saúde pública.
“As pessoas estão desesperadas porque tem muita gente sendo salva por essa medicação. Porém no comércio encontramos a R$ 20 mil uma única ampola. É muito caro”, lamenta.
Ela denuncia que, por conta da ausência de distribuição do remédio na saúde pública local, atravessadores têm ganhado muito dinheiro com a venda da substância. “As famílias desesperadas acabam pagando o que eles [os atravessadores] querem”.
Procurada pela reportagem, a Sesacre, por meio do Departamento Estadual de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (Dafi), afirmou que a prescrição do Tocilizumab para qualquer enfermidade que não a artrite reumatoide configura uso fora da bula, o que, segundo a gestão, não é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Para sua utilização no tratamento de Covid-19, os estudos avaliados apresentam resultados que devem ser interpretados com cautela, devido ao baixo rigor metodológico (estudos sobre mecanismo, relatos e séries de casos)”, disse o governo, em nota.
“Dessa forma, não é recomendada a aplicação rotineira de Tocilizumab em pacientes com Covid-19. Nesse sentido, o uso e as consequências clínicas de utilização desse medicamento para tratamento não aprovado e não registrado na Anvisa é de responsabilidade do médico”, continua.
A Sesacre comunicou ainda que não existem estudos robustos que gerem alto impacto acerca do uso do medicamento. “Portanto, a utilização do Tocilizumabe deve ser restrita a centros com profissionais que já possuam experiência em seu uso e preferencialmente deve ser realizado mediante protocolos de pesquisa clínica”.