José da Silva (nome fictício) tem vivido dias de muita dificuldade desde o início do ano, quando parou de receber o salário da empresa onde trabalha, a Maia Pimentel, que presta serviços de limpeza à Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (SEE).
Morando de aluguel com a família, ele precisou entregar a casa e agora vive de favor. Graças à solidariedade dos amigos, Silva não chegou a passar fome, mas as dívidas e as incertezas sobre o futuro têm tirado seu sono.
“É muito difícil passar por essa situação. Mesmo com quatro salários atrasados a gente continua indo trabalhar todos os dias, faça chuva ou faça sol. E pior: tirando dinheiro que não tem para garantir o transporte até o emprego, que não nos paga”.
Assim como José, que não se identificou por medo de represálias, outros 2 mil trabalhadores vinculados a empresas que prestam serviço para SEE não têm o que comemorar neste 1º de maio.
Eles não receberam o salário referente aos quatro últimos meses por falta de repasses do governo aos empreendimentos onde estão lotados. O problema acontece na capital Rio Branco e também no interior.
O estado alega que as empresas deixaram de enviar as documentações trabalhistas necessárias para que o repasse fosse feito. Porém, deputados de oposição têm questionado o motivo de o problema acontecer com tantas empresas ao mesmo tempo somente agora, quando a Secretaria de Educação passa pela maior crise dos últimos anos.
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A pasta é alvo de duas operações policiais que apuram fraudes na licitação de compras de cestas básicas para alunos durante a educação à distância e superfaturamento na aquisição de computadores. Mesmo sem indícios de participação nos esquemas, o secretário Mauro Sérgio se afastou do exercício do cargo há mais de um mês e foi temporariamente substituído.
Um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) chegou a ser protocolado na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) para contribuir com as investigações da Polícia Civil. A CPI também tem como objeto a situação dos trabalhadores terceirizados que seguem sem o salário.
“Cheguei a passar fome”
Ana Maria (nome também fictício) nunca imaginou que passaria pela situação de ter que trabalhar todos os dias, porém, ao final do mês, não ver a cor do salário na conta. Ela é uma das mais de 90 merendeiras da empresa Tecnews, que também deixou de pagar o vencimentos de seus trabalhadores após suspensão do repasse do governo.
“Uma situação horrível que só sabe quem vive. Não vou mentir: chego a passar necessidade dentro de casa e estou sobrevivendo com a ajuda de familiares. Ninguém dá uma resposta pra gente”.
Ela e as colegas também não deixaram de cumprir com suas obrigações diárias mesmo sem receber salário. “Estamos trabalhando todos os dias. Está lá o nosso ponto assinado. O que não tem é salário mesmo”.
A trabalhadora falou que há companheiras de serviço em uma situação ainda pior, que são mães solteiras e que estão sendo ameaçadas de despejo de suas residências por não pagarem aluguel.