Os pais da estudante Eloá Cristina da Silva Pimentel, morta a tiros pelo ex-namorado durante sequestro em 2008 em Santo André, na Grande São Paulo, lamentaram nesta terça-feira (4) a morte da vendedora Maria Augusta da Silva dos Anjos, de 51 anos, que havia recebido o coração da filha deles após o crime.
Segundo a família da transplantada, Augusta faleceu na segunda-feira (3) em decorrência de complicações da Covid-19, no hospital particular onde estava internada em Paraupebas, no Pará. Ela era casada, não tinha filhos e morava em Canaã dos Carajás, interior do estado.
“Augusta ficou maravilhosa depois que recebeu o coração de Eloá, mas essa doença [Covid] a pegou e a matou”, completou Ana Cristina.
“Ficamos sabendo e lamentamos o falecimento da Maria Augusta”, falou à reportagem Everaldo Pereira dos Santos, 56, pai de Eloá.
Eloá teve a morte cerebral anunciada pelos médicos em 18 de outubro de 2008. O assassino era um entregador de pizzas de 22 anos. Ele não aceitava o fim do namoro. De 13 a 17 de outubro de 2008, a imprensa transmitiu ao vivo o sequestro, com seu desfecho trágico.
O sequestrador foi julgado em 2012. Acabou condenado a mais de 90 anos de prisão por 12 crimes. A pena foi reduzida depois pela Justiça para 39 anos. Atualmente ele está preso em Tremembé, interior paulista.
Órgãos doados a cinco pessoas
Cinco pessoas receberam órgãos de Eloá que foram doados por Ana Cristina e Everaldo, pais da jovem. Foram transplantados coração, pulmão, córneas, fígado, rins e pâncreas.
Augusta foi uma das receptoras. Havia ganhado o coração no dia de seu aniversário, em 20 de outubro de 2008. Na última segunda à tarde, ele parou de bater, segundo contou a fisioterapeuta Jeanne Carla Rodrigues Ambar, sobrinha dela.
De acordo com a sobrinha, a morte de Maria Augusta, que estava internada no Hospital Santa Terezinha, foi causada por complicações da Covid.
Segundo Jeanne, Augusta foi diagnosticada com a doença havia um mês. Ela vinha fazendo tratamento em casa, mas sentiu falta de ar em 25 de abril, quando precisou ser internada. No dia 27 acabou intubada.
De acordo com a sobrinha, Augusta costumava ir ao hospital para tratamento e para exames de rotina relacionados ao transplante, mas a família não sabe onde nem como ela foi contaminada pelo coronavírus.
“Ela era supercuidadosa. Ela não saía. Ela saiba que fazia parte do grupo de risco. Só saía para a casa da minha avó em Paraupebas, que fica a meia hora de Canaã dos Carajás”, falou Jeanne ao G1. “A gente não sabe se ela pegou em algum momento no hospital ou de algum familiar.”
Segundo a sobrinha, a família de Augusta quer discutir a possibilidade de viabilizar um instituto com o nome dela para atender pessoas carentes e fazer trabalhos assistenciais. “Depois que minha tia recebeu o coração de Eloá, ela ajudava crianças da Ilha de Marajó, todo final de ano.”
Em 2018, quando o caso Eloá completou dez anos, Augusta falou à reportagem que a vida dela era “um milagre”.
“Recebi a notícia por telefone. Meu médico ligou: ‘vem para o hospital que eu acho que você vai ganhar o coração daquela moça, a Eloá’. Eu soube do caso pela TV. Fiquei internada do dia 8 de outubro até dia 18 de outubro”, disse Augusta à época. “Por isso agradeço à mãe de Eloá por ter permitido a doação dos órgãos da garota.”