Filho do goleiro Bruno vive sem pensão e quer encarar o pai

Aos 11 anos, Bruninho Samudio tem uma biografia digna de um thriller psicológico, desses que Hollywood adoraria filmar.

A mãe, Eliza Samudio, foi morta pelo pai, o goleiro Bruno Fernandes, segundo testemunhas, na presença dele. Passada mais de uma década de um crime que ainda não foi totalmente esclarecido (o corpo da modelo até hoje não apareceu), o garoto que vive em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, tenta ter a infância que qualquer menino de sua idade teria. Não fosse pelo fato de agora querer saber mais sobre seu passado e confrontá-lo.

“Dia desses, ele me questionou sobre a morte da mãe porque se sente culpado pelo crime. Nunca tinha visto ele se revoltar ou ficar tão abalado. Vi meu neto socar o colchão dele com força… Disse que ele não é culpado de nada. O único culpado nessa história é o pai”, narra Sônia Moura, mãe de Eliza, que cria o neto desde o desaparecimento da filha: “Pela primeira vez ele manifestou a vontade de conhecer Bruno. Mas diz que esse dia só vai chegar quando puder estar na mesma altura que ele, para olhá-lo nos olhos”.

Foto: Ana Carolina Cotia Marques – Ret

Se depender do tempo e da altura que tanto almeja chegar, esse dia não tardará. Com 1,65, calçando 41, Bruninho cresce a olhos vistos.

O que vem lhe rendendo muitos elogios na escolinha de futebol onde treina como — ironia das ironias — goleiro nas categorias sub-11 e sub-13.

Ninguém sabe, mas a Eliza foi goleira na escola também. Desde os 8 anos, ela era apaixonada por futebol, sonhava jogar profissionalmente e conhecer seu ídolo, Rogério Ceni, que também é o do meu neto”, conta Sônia:

“Eu reneguei muito essa vontade dele ser goleiro. Mas não posso interferir no que ele quer e tem aptidão. Até tentei o karatê. Ele é faixa laranja. Mas o futebol fala mais alto. Ele é sãopaulino como a mãe”.

Sônia se emociona ao lembrar da filha, morta aos 25 anos. Diz que toma todos os cuidados para que Bruninho não tome ciência dos detalhes do crime, mas sabe que será inevitável.

Enquanto isso, luta há dez anos na Justiça para que, ao menos, Bruno cumpra as funções burocráticas de um pai. Mas sem sucesso.

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“O processo de pensão alimentícia foi aberto quando minha filha ainda estava viva. Até hoje, Bruno não depositou um centavo para o filho. Nenhum oficial de Justiça consegue citá-lo. O curioso que até eu tenho o endereço dele e o judiciário não… Tentei receber para meu neto o auxílio reclusão que os filhos de preso têm direito e isso também foi negado. Todos os direitos do Bruninho foram violados desde antes de seu nascimento”, desabafa a avó materna.

Com tudo que cerca a história de sua origem, Bruninho faz terapia uma vez por semana. os treinos como goleiro são diários, assim como a escola em que estuda com bolsa integral por ser atleta. Tudo é custeado com os ganhos do avô que trabalha como capoteiro.

“Agora na pandemia ficamos mais apertados. Tenho meu sítio no interior, mas não posso morar lá por causa da escola do menino. Pago aluguel e todas as contas dele. Desde que minha filha morreu, vivo em função da criação do meu neto. Eu tinha muito medo de ele ficar sozinho e de fazeremn algo com ele. Protejo mesmo”, justifica.

Sonia se orgulha dos feitos do menino em campo, embora também se preocupe e tenha até saudade de quando ele era só um menininho.

“Ele tem que ter pelo menos duas chuteiras para treinar todo dia. Cada uma custa em torno de R$ 600. E como cresce rápido, perde rápido também. A projeção dos médicos é de que ele vai medir 2 metros”, diz.

 

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Sem a ajuda financeira do pai, cujo nome está na certidão de nascimento, Bruninho cresce sob os cuidados dos avós e de mimos simples como o estrogofe com batata frita e de sobremesa chocolate no dia de morte da mãe, para amenizar um pouco do vazio deixado em uma história de muitas perguntas e poucas respostas:

“Não é fácil. Nunca foi. Tento preservá-lo ao máximo dessa trsieteza toda. Eu não quero que a morte dela seja esquecida. Mesmo que apenas uma pessoa lembre. Não quero que meu neto tenha os traumas que tem pelo resto da vida. É um carma pesado demais. Eu só vou dar paz ao Bruno no dia em que ele devolver o corpo da minha filha. Nem que seja o dedo mindinho dela. Até lá, vou continuar cobrando como posso sua responsabilidade”.

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