Cerca de 50 pessoas de religiões de matrizes africanas fizeram uma roda de Candomblé na Praça Marielle Franco, em Brasília, para repudiar as ações de policiais que, segundo eles, invadiram terreiros e quartos sagrados durante as buscas a Lázaro Barbosa dos Santos. O protesto foi no fim da tarde desta segunda-feira (28), depois que o criminoso foi encontrado e morto, com pelo menos 38 tiros, em Goiás.
O grupo pede punição aos policiais que, segundo eles, agiram com truculência, apontaram armas e depredaram altares nos terreiros, por suspeita de que Lázaro poderia nos espaços religiosos em Águas Lindas, Girassol, Cocalzinho e Edilândia, no Estado de Goiás. Os religiosos registraram ocorrência policial por conta dos casos.
O G1 procurou a Secretaria de Segurança de Goiás, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Audiência Pública
Durante a tarde desta segunda-feira, uma audiência pública virtual da Câmara dos Deputados debateu as agressões e os atos da polícia nos terreiros de Goiás. A audiência foi coordenada pela Comissão de Cultura da Casa e teve a participação de deputados distritais do DF e deputados federais, além dos líderes religiosos.
O Pai Ricardo de Oxóssi, da liderança tradicional de matriz africana, disse que “ninguém, em nenhum momento, foi contra as buscas a Lázaro naquela região”. O protesto é “pela forma como a polícia entrou nas casas”.
Os religiosos afirmam que as forças de segurança tentaram vincular as condutas criminosas de Lázaro Barbosa a supostos “rituais satânicos” que não existem nas casas de matriz africana. “Prezamos pela vida, pelo bem estar. As casas de matriz africana acolhem a todos, mas não acolhemos a tudo”, disse Pai Ricardo de Oxóssi, durante a audiência pública.
“Tivemos casos de pessoas que foram surradas pela polícia, que é o caso do caseiro do pai André e pasmem, um homem que tem uma deficiência vocal”, diz Pai Ricardo de Oxóssi.
Ao todo, o grupo contou, pelo menos 10 casas religiosas invadidas durante a “caçada” a Lázaro. Os líderes religiosos pedem que os policiais que agiram com truculência sejam identificados e punidos, além de que seja feito um trabalho de capacitação das forças de segurança para que elas hajam “com o devido respeito a diversidade religiosa e liberdade de credo”.
“Os intolerantes daqui a pouco vão começar a atear fogo nos terreiros. O nosso povo já é perseguido demais. Já chega de racismo religioso”, destacou Adna Santos, também conhecida como mãe Baiana. A líder religiosa é também Coordenadora de Políticas de Promoção e Proteção da Diversidade Religiosa, da Subsecretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial do Distrito Federal (SUBDHIR/Sejus).