Anvisa autoriza Pfizer a fazer estudo clínico de 3ª dose no Brasil

A Pfizer já recebeu autorização da Anvisa para conduzir um estudo clínico no Brasil sobre a efetividade da aplicação de uma dose de reforço da vacina contra a covid-19 para maior proteção contra a infecção, sobretudo contra novas variantes. A decisão vem logo após os EUA liberarem a farmacêutica para aplicar reforço na população e das discussões advindas do avanço da variante Delta.

Para iniciar as investigações, na próxima semana, às 9h (horário de Brasília) da terça, será ouvida a Emanuela Medrades, diretora técnica da Precisa Medicamentos — empresa que teria feito intermediação nas negociações para compra da vacina Covaxin. A informação foi confirmada na sexta (9) pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

Dados de estudo conduzido pela Pfizer nos EUA mostram que a dose extra cria níveis de anticorpos cinco a dez vezes maiores do que os adquiridos com apenas duas. Lá, a variante Delta, que é mais transmissível e pode se espalhar rapidamente, provoca 25% dos casos. No Brasil, a prevalência é, em larga escala, da variante Gama, detectada originalmente em Manaus. De 70% a 100% dos casos nos Estados são desse tipo. Já se sabe que a Delta circula em São Paulo e, possivelmente, no Rio.

“A gente sabe que a resposta imunológica contra qualquer antígeno tende a cair depois de um tempo”, explica o virologista Flávio Guimarães, pesquisador do Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas (UFMG). “No caso da covid-19, ainda estamos entendendo como essa queda acontece, depois de quantos meses, para quais variantes.”

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou a autorização dada à Pfizer e informou que, até o momento, a farmacêutica foi a única a pedir essa autorização. A pesquisa pretende avaliar a segurança, a imunogenicidade (capacidade de estimular a produção de anticorpos contra o agente causador de uma doença) e a eficácia de várias estratégias de reforço da vacina em diferentes populações que já receberam duas doses do imunizante.

Segundo a Anvisa, o estudo prevê o recrutamento de 443 voluntários no centro clínico do Hospital Santo Antônio das Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador, e 442 participantes no Centro Paulista de Investigação Clínica e Serviços Médicos, em São Paulo, onde a vacina foi testada originalmente. Serão recrutadas pessoas maiores de 16 anos, de ambos os sexos, que já tenham tomado as duas doses regulamentares. A Pfizer informou que aguarda apenas a autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para começar o estudo no País.

O Instituto Butantan informou que estuda “a possibilidade de um reforço anual da vacina (que não deve ser confundido com uma terceira dose)” para ampliar sua eficiência. No caso da AstraZeneca, estudos da Universidade de Oxford, que desenvolveu o imunizante, apontaram uma resposta imune mais robusta com a terceira dose.

Cientistas brasileiros ouvidos pelo Estadão dizem que a prioridade hoje no País, porém, é acelerar a vacinação contra a covid-19 e reforçar a importância de que as pessoas compareçam para tomar a segunda dose. Além disso, lembram, a variante Gama segue predominante no Brasil. Por enquanto, não há indícios concretos de que a Delta vá tomar o seu lugar. “A Delta já foi registrada no País, mas não se tornou epidêmica”, constata Guimarães. “Nem sabemos se vai se tornar.”

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) Flávia Bravo concorda com o colega. “Agora não é a hora de a gente pensar em terceira dose”, afirma a especialista. “É natural que países que estão muito avançados na imunização comecem a se preocupar com isso. Mas não é o nosso caso. O que temos de fazer é vacinar todo mundo rapidamente para reduzir a circulação do vírus.”

Na França, a dose extra já é aplicada em pessoas com problemas imunológicos. O Reino Unido quer aplicar o reforço a partir de setembro, especialmente em idosos. A Indonésia, país onde a maior parte da população recebeu vacinas chinesas, já estuda a aplicação de uma dose a mais em profissionais de saúde. O reforço seria com o imunizante da Moderna, doado pelos EUA.

 

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