Contemporâneo e inconformista, mas sem abdicar do lirismo, Bastante aos gritos é o quarto livro do acreano Cesar Garcia Lima, poeta, professor e jornalista, lançado pela editora carioca 7Letras. A obra reflete uma profusão de vozes em busca de afirmação, em uma escrita que evidencia seu cosmopolitismo, ao mesmo tempo que evoca a origem amazônica do autor. A capa utiliza a pintura “Retrato de homem em rosa”, do artista plástico e também acreano Danilo de S’Acre.
Nas palavras da escritora Adriana Lisboa na orelha do livro: “Neste mundo aos gritos, a poesia reitera sua capacidade de estar junto da dor, sem desviar os olhos ou tampar os ouvidos.”
Bastante aos gritos está dividido em cinco partes que, segundo o autor, podem ser vistas como livros independentes:
– “Agora interminável” tem como mote a revolta diante da realidade (‘Conversemos sobre o agora./ Deixe o medo perder/ a força’, de “O cervo na planície gelada”);
– “Nome aos boys” recorre à autoironia para abordar encontros e desencontros (‘O amor da minha vida/ se mudou para o deserto/e sequer tenho seu endereço’, de “Segundo São João”);
– “Personas” radiografa cenas da vida urbana (‘a gente vive assim / sempre sempre/ usando a máscara do medo/ como se o carnaval/ durasse tanto’, de “Mascarada”);
– “As cidades da memória” revela poemas de viagem (‘Estive na Suécia/ e lembrei-me de sofrer”, de “Bergman”);
– “Autorretrato em fuga” exerce uma lírica pouco complacente (‘sofro porque/ sou fictício’, de “Versão impressa”).
Para Cesar Garcia Lima, “este livro tem um duplo significado, de realização, resistência política e existencial.” Para o autor, a indignação é um dos motes de sua a poesia: “É incontornável não falar do momento de decadência na política, de supressão de direitos democráticos, ainda que as minhas referências sejam alusivas. Procuro não fazer nada datado e escapar do panfletário, porque a revolta será sempre atual’, reflete.
No livro, poemas breves – seguindo a concisão imagética da poesia marginal brasileira dos anos 1970 – aproximam-se de poemas narrativos e versos intimistas. Trata-se de uma poesia que dialoga também com o movimento beatnik e com os modernistas brasileiros, concebida ao sabor da perda, entre o mistério da floresta e asfalto selvagem da cena urbana brasileira. Bastante aos gritos toca a carência e a perplexidade, mas também não se furta das descobertas.
MINIBIO: Cesar Garcia Lima (Rio Branco, AC, 1964) é poeta, professor de literatura brasileira e jornalista. É doutor em Literatura Comparada pela UERJ. Publicou Águas desnecessárias (Nankin Editorial, 1997), Este livro não é um objeto (edição do autor, 2006) e Trópico de papel, (7Letras, 2019), além de participações em antologias. Como diretor, realizou os documentários “Soldados da Borracha” (2010) e “Onde minh’alma quer estar (2015). Vive no Rio de Janeiro.
Outras informações e como comprar:
https://7letras.com.br/livro/bastante-aos-gritos/