Casa onde morreu Chico Mendes em Xapuri vive segunda tragédia 33 anos depois

Fotografada mais de uma centena de milhares de vezes nos últimos 33 anos, como símbolo da luta do sindicalista Chico Mendes e por ter sido palco da tragédia em que ele foi morto a tiros em dezembro de 1988, com suas imagens rodando ao redor do mundo, a casinha simples em madeira e coberta de telhas de barro em que o sindicalista viveu com sua família está sendo palco de mais uma tragédia: desta vez, ao invés de balas, o abandono.

Localizada no centro de Xapuri, com o fundo do quintal dando acesso às margens do rio Acre, a casinha pintada em azul com as portas e janelas em rosa choque, do mesmo jeito que era enquanto Chico Mendes ali vivia coma a mulher Ilzamar e os filhos Elenira e Sandino, até aquela fatídica noite de 22 de dezembro de 1988, foi tombada como centro de memória do sindicalista, uma espécie de pequeno museu onde foram guardados livros e outros objetos usados por ele e sua família. Nesta condição, a casinha passou a referência turística nacional e internacional de pessoas interessadas em conhecer a história de Chico Mendes e do movimento ambientalista que ele empreendeu, mas hoje está em completo abandono.

Nos últimos dois anos, fechada e coberta pelo mato, o que deveria ser um centro de memória ou mesmo um museu dedicado a um herói brasileiro e mártir do movimento ambientalista internacional, além de ameaçada de desabar, está vivendo no mais completo abandono. E não é por falta de procura dos turistas, conforme revela Maria Taís da Silva, 25 anos, secretária da Amoprex (Associação de Moradores e Produtores da reserva Chico Mendes), que funciona ao lado do imóvel fechado. “Todos os dias batem pessoas aqui, vinda de outros estados do Brasil, ou daqui mesmo, e do exterior, querendo saber o motivo de a casa viver fechada. Eles acham que nós, da Associação, temos a chave querem que a gente abra a casa Eu não entendo a razão deste abandono”, diz a secretária.

Maria Taís diz que há muita procura de turistas/Foto: ContilNet

A casa está fechada desde o Governo Tião Viana, cujo governador, filiado ao PT, era aliado de Chico Mendes e de cujo símbolo os governos da Frente Popular do Acre (FPA) se alimentaram durante 20 anos de poder no Estado. Com as cheias do rio Acre desde a época inicial do abandono, em 2015, os barrotes da casinha passaram a ser ameaçados com a inundação que naquele ano afogou praticamente toda Xapuri. Passada a inundação, o imóvel continuou fechado e não recebeu nenhum benefício de recuperação.

O alerta de risco de desabamento foi feito dia 25 de julho deste ano em laudo de vistoria apresentado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O imóvel está tombado pelo IPHAN desde 2007 como imóvel e bem cultural acreano como Patrimônio Histórico do Brasil. O laudo aponta que, além do deslizamento de terra onde a casa está instalada, a madeira que a cerca está apodrecida e que se providências não forem tomadas, a ruína é inevitável.

Nota da redação

De acordo com a presidente da Fundação Elias Mansour (FEM) da gestão Tião Viana, Karla Martins, a casa de Chico Mendes ficou fechada de 2015 a 2017 para reforma. Após as reformas, a casa foi reaberta e só foi fechada novamente no final da gestão do então governador, por conta dos acordos de cessão onerosa que envolviam a cessão do bem, por parte de familiares, para visitação pública.

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