A união do ex-governador Geraldo Alckmin com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa chapa para disputar a eleição presidencial do próximo ano é vista como difícil mas não impossível pela cúpula do PT. Os dois se encontraram duas vezes nos últimos meses e abriram um canal de diálogo.
Pessoas próximas a Lula dizem que não houve convite para a aliança e que as conversas fizeram parte do esforço do petista de criar interlocução com atores comprometidos com a democracia, diante dos ataques às instituições feito pelo presidente Jair Bolsonaro.
Dentro desse movimento, o líder petista também se encontrou nos últimos meses com outras lideranças do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Tasso Jereissati (CE). Ao contrário do que aconteceu nesses dois casos, a conversa com Alckmin não foi divulgada pela assessoria de Lula em suas redes sociais.
Alckmin já anunciou que pretende deixar o PSDB. Um eventual convite formal a Alckmin só viria no ano que vem, após o petista conseguir definir de forma mais concreta os partidos com que poderá contar como aliados. De acordo com interlocutores do ex-presidente, o ex-governador paulista poderia ser vice na chapa tanto pelo PSB, partido hoje mais próximo de se aliar a Lula, como pelo PSD.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, quer ver o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), como candidato ao Planalto, mas parte do mundo político desconfia que a inciativa não seja para valer.
Histórico conhecido
Em conversas internas, Lula ressalta que Alckmin tem compromisso com a democracia e que todos conhecem a sua forma de pensar e agir, dado o seu longo histórico na política. O ex-presidente cita os ataques proferidos pelo tucano quando o enfrentou na eleição presidencial de 2006, mas considera que, apesar de duros, estiveram dentro do aceitável. Além disso, como governador, sempre tratou os então presidentes Lula e Dilma Rousseff com respeito.
No dia em que jornal “Folha de S. Paulo” mostrou que lideranças do PT e do PSB tentavam viabilizar a chapa, Alckmin foi às redes sociais dizer: “Muitas especulações têm surgido nos últimos dias sobre nosso futuro político. Sigo percorrendo São Paulo e pensando nos problemas da nossa gente. Quero deixar claro que vocês serão os primeiros a saber de qualquer novidade”.
Um aliado próximo do ex-governador acredita que, pelo seu histórico, caso descartasse completamente a possibilidade de se aliar a Lula, Alckmin teria sido mais direto. Da forma que se manifestou, deixou o caminho aberto.
Uma união com Lula poderia colocar o ainda tucano como uma figura de destaque no plano nacional novamente depois da derrota na eleição de 2018, quando teve apenas 4,7% dos votos válidos.
Por outro lado, o ex-governador desagradaria a sua base conservadora no interior do estado e também políticos aliados em São Paulo. Prefeitos ligados a Alckmin teriam dificuldade de explicar em suas cidades uma união com o PT.
A intenção inicial de Alckmin é concorrer ao governo de São Paulo. Além do PSD, ele vinha negociando também o ingresso no União Brasil, partido que surgirá da fusão do DEM com o PSL. Seu grande objetivo na disputa é derrotar o atual governador João Doria, que pretende apoiar o seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB).