Dizem porta-vozes informais do PT que Lula está preocupado com os efeitos das pesquisas de intenção de voto que há meses o apontam como o próximo presidente do Brasil, possivelmente eleito ainda no primeiro turno, coisa na qual ele não acredita.
Isso não seria bom para Lula. Poderia criar dentro do partido e nas suas cercanias um clima de euforia paralisante. De salto alto, o pessoal deixaria de correr atrás de votos com gosto de sangue na boca e passaria a discutir os rumos do futuro governo.
Não só os rumos, mas os nomes de eventuais titulares de cargos importantes. Lula descarta valer-se de nomes que o ajudaram a governar nos seus mandatos anteriores. Quer gente nova com ele. E quer, ele mesmo, mandar em áreas vitais da administração.
Não repetirá a fórmula de dispor de dois superministros como foram Antonio Palocci na Economia e José Dirceu na Casa Civil. Sentiu-se mais à vontade quando ambos rolaram ladeira a baixo. De resto, a fórmula também não deu certo com Bolsonaro.
Mas o que fazer se as próximas pesquisas reforçarem sua condição de favorito? Convenhamos que essa é uma doce preocupação. A primeira pesquisa de 2022, a do Instituto Quaest, divulgada ontem, mostrou que Lula continua muito bem, obrigado.
Felipe Nunes, o CEO do instituto, disse que caso Ciro Gomes (PDT) desista de ser candidato, o mais provável é que Lula ganhe a eleição de outubro no primeiro turno. Algo como 40% dos eleitores de Ciro têm Lula como sua segunda opção.
O candidato do PDT deixou de crescer desde que a candidatura de Lula se consolidou. Uma das novidades da pesquisa Quaest é que Ciro está caindo. Em outubro, tinha 11% das intenções de voto. Agora, 5%. Foi ensanduichado por Bolsonaro e Lula.
“Ciro vem caindo a cada mês, como se seu eleitor não acreditasse mais que a candidatura dele seja viável”, analisa Nunes. “O que se pode observar é que ele foi engolido pela possibilidade de Lula vencer no primeiro turno.”
Uma eventual desistência de Sergio Moro, por sua vez, beneficiaria mais Bolsonaro: 22% do eleitorado do ex-juiz migraria para o atual presidente. Outra novidade da pesquisa é que pela primeira vez houve um descasamento entre os eleitores homens e mulheres.
Os homens rejeitam menos Bolsonaro, enquanto as mulheres rejeitam mais. Quanto a Moro, ele caiu, mas dentro da margem de erro da pesquisa. Seu teto, segundo Nunes, seria de 30% se o espaço da chamada terceira via fosse desobstruído.
Alckmin como vice de Lula poderia não trazer muitos votos para a chapa, mas serviria para abrandar a oposição ao ex-presidente em setores vitais da economia. Má notícia para Bolsonaro: 72% dos entrevistados são a favor da vacinação infantil contra a Covid.