Dona Francis, como é popularmente conhecida, é uma artista da floresta com a alma
envolvida por suas flores. Aos 76 anos de idade sustenta com elegância um repertório
autoral que faz parte de uma coletânea de mais de três mil canções, poemas, ensaios,
peças de teatro, entre outras composições literárias. Nasceu em Mâncio Lima mas
cresceu em Cruzeiro do Sul e vive na cidade de Rio Branco desde meados da década de
80.
Este é o sexto álbum de sua carreira, tendo sua produção musical atravessado por
diferentes transformações tecnológicas. Seu primeiro álbum musical foi lançado em LP,
um em fita K7, mais três álbuns em formato de CD, e agora por meio digital. O trabalho
será lançado à 20h do dia 27 de abril e estará disponível no canal do Baquemirim
(https://bit.ly/3ro2JXJ) no YouTube.
Sua obra é plena de memórias afetivas e sua música conhecida pelos antigos da região
do Vale do Juruá, aonde aprendeu sobre diversas culturas e folguedos como os bois de
reisado, a marujada, a vassourinha, a pastorinha, entre outros. Também dá continuidade
à tradição oral por meio da contação de histórias dos povos ancestrais, representando em
sua poética modos de vida e toda uma ecologia de saberes.
A artista nos conta que os mistérios da natureza se referem àquelas chamadas lendas,
mistérios, coisas misteriosas que apareciam e desapareciam na floresta. “Só quem
chegou a ver essas coisas foram os seringueiros do tempo da segunda guerra mundial e
os povos da floresta, o meu pai e seus amigos eles viam quando era noite, no céu
estrelado, também ouviam vozes dentro da mata, pessoas cantando, diziam que era o
encanto da mata, junto aos animais da noite, grilos, curujão, bacurau, e muitos outros. A
alegria da natureza junto dos seus mistérios, é isso.”, relata a compositora.
Mistérios da Natureza como será lançado é fruto de um espetáculo musical de teatro
dirigido e concebido por Francis Nunes há mais de vinte anos junto do Grupo GAFA, o
Grupo de Apresentação Folclórica do Acre, e que leva o mesmo nome do trabalho que
agora está sendo lançado e será dividido em dois volumes. Assim como a encenação, o
álbum traz ao baile o universo cultural da floresta amazônica, seus seres encantados e a
vida nos seringais, assim como reflete sobre ecologia, sustentabilidade e patrimônio
histórico.
Francis Nunes apresenta suas melodias em ritmos de valsas, xotes, mazurcas, sambas e
marchas no baque acreano, permeadas pelos saberes da floresta. As músicas são
envolvidas por narrativas poéticas sobre a natureza junto de histórias de nosso folclore,
trazendo em toda a obra uma mensagem de valorização da vida em amor à natureza.
“É um sonho, um sonho que estava perdido. Foi Deus quem me mostrou neste sonho as
composições dos Mistérios da Natureza, estava perdido no além, e agora foi trazido de
volta. É como se eu estivesse sonhando. Minha família está admirada, feliz. Os
Mistérios da Natureza guardam parte das memórias, dores, e de tudo quanto aconteceu
com a gente na floresta, o que ouvimos, aprendemos e vivemos… É a lembrança de um
tempo em que a gente não tinha relógio, era a natureza quem dizia pra gente qual era a
hora do dia ou da noite.”, relata a compositora.
Fazendo coro a estes Mistérios da Natureza está a musicista Jehnny Lima que além
pesquisar a obra da mestra grava a segunda voz nas faixas do álbum e assina a produção
executiva do projeto. “Francis Nunes interage o mundo fantástico com uma realidade
mais crua. O desmatamento, o assassinato de Chico Mendes, a história de Hélio Melo
que faleceu sem conseguir gravar a sua obra, ao mesmo tempo junto com o universo do
Mapinguari, da Mãe das Matas, confluindo estes universos e histórias.”, destaca Lima.
A direção musical é de Alexandre Anselmo, mestrando em música (UNB) e pesquisador
da cultura musical acreana desde 2007. “Todo o processo de confecção dos arranjos foi
trabalhado a partir das referências musicais advindas das referências dos mestres da
cultura popular acreana, contemporâneos e parceiros de Francis Nunes desde o Vale do
Juruá, região de origem da compositora. O trabalho de instrumentação com percussão,
sanfona, violão, bandolim, entre outros, tem essa referência, este embasamento na
memória musical dos povos da floresta e da cultura dos seringueiros, assim como há a
presença de referências musicais mais contemporâneas, configurada no uso de
instrumentos como o contrabaixo, por exemplo.”, destaca Anselmo.
Participam musicalmente outros mestres da música e cultura popular acreana, os
senhores Toinho do Violão e Aurélio do Cavaquinho que são antigos parceiros musicais
de Francis Nunes estando há décadas familiarizados com o seu repertório. Também
participam o sr. Francisco de Assis, conhecido como seu Preto do Pandeiro, e o
violinista Pedro Luz em faixa homenageando o artista Hélio Melo.
A produção do álbum tem o apoio do Instituto Nova Era em parceria com o
Baquemirim, Organização da Sociedade Civil com sede em Rio Branco/Acre, que tem
como objetivo contribuir para a salvaguarda do patrimônio artístico imaterial e material
da cultura acreana e Amazônia Sul Ocidental, tendo como protagonistas de suas ações
mestres e mestras da cultura popular e musical no Estado. A identidade visual e
fotográfica é de Alonso Pafyeze, e o projeto conta com auxílio técnico da Aruê! Arte,
Cultura e Holismo no desenvolvimento de sua proposta.
A realização deste trabalho é financiada com recursos da Lei Aldir Blanc por meio do
Governo do Estado do Acre e Federação de Cultura Elias Mansour.
Serviço
Lançamento – Mistérios da Natureza
Álbum da Mestra Francis Nunes
27 de abril às 20h
Disponível no canal do Baquemirim no Youtube (https://bit.ly/3ro2JXJ)