Após 2 anos sem ser realizada, voltou a acontecer neste fim de semana, no Parque de Exposições de Rio Branco, a Feira de Exposições Agropecuárias do Estado do Acre, realizada em 2022, pela 47ª vez.
A Expoacre, como ficou conhecida a Feira, trata-se de um evento de grande porte, promovido por órgãos do governo estadual em parceria com diversos setores privados, que organizam a festa para movimentação de negócios e promoção direta e indireta de emprego e renda, num Estado com claro e natural potencial agropecuário.
Vendem-se animais, insumos, ferramentarias diversas e veículos rurais, ao passo em que a população, convidada a prestigiar a Feira, pode visitar espaços de recreação, palestras temáticas, rodeios e shows musicais locais e nacionais, quase sempre de estilo sertanejo, country e caipira.
Que a Expoacre tem uma importância fundamental no desenvolvimento de diversas cadeias produtivas econômicas, isso todos nós já sabemos. No período de pausa da Feira, não realizada em virtude da pandemia do coronavírus que nos abateu a partir de 2020, dezenas de milhões de reais deixaram de ser investidos na economia do Acre, o que prejudicou as atividades financeiras rurais, como também comerciais e industriais desse Estado, que ninguém duvida ser muito carente econômica, assim como também culturalmente.
De algum tempo pra cá, na onda de movimentos político-ideológicos retrógrados e conservadores, muito se falou mal da cultura do Brasil. Discursos realizados por líderes políticos excêntricos, ignorantes completos em sociologia, influenciaram diversas camadas da população a condenar todas as políticas públicas do contexto cultural.
Leis de incentivo à cultura foram ridicularizadas, o próprio Ministério da Cultura foi extinto… logo no Brasil, o país com a maior miscigenação cultural que já se teve notícia no planeta Terra. E assim, a cultura popular, que envolve a realização de feiras agropecuárias – como a Expoacre – e que é uma das únicas ferramentas que um povo possui para pacificar a convivência e melhorar a imagem do país perante o mundo, com o tempo, vai esvaziando… sem que nós lutemos contra.
Essa confusão de conceitos se mostra no nosso dia-a-dia, e pode ser vista, por exemplo, nos inúmeros comentários irônicos e críticos de depreciação da Expoacre e suas atividades correlatas, como a famosa cavalgada, que tradicionalmente abre a festa.
O que devemos criticar é a falta de fiscalização do trânsito, o exagero no consumo de bebidas alcoólicas por alguns, os preços exorbitantes dos alimentos nas praças de recreação, as condições sanitárias a que são submetidos os animais, muitas vezes vítimas de maus tratos – como vimos acontecer neste fim de semana.
Assim como estudado por Johann Goethe, filósofo alemão, teórico de grandes obras sobre o campo da criatividade humana, o que devemos corrigir é a forma, e não o conteúdo da expressão cultural.
Por isso, a importância da nossa crítica construtiva à organização – mas que nunca deixemos de defender a realização de feiras como a Expoacre – uma festa popular que herda da sociedade a tradição cultural de um povo que canta na rua, feito uma reza; e que se diverte, apesar dos problemas, feito um ritual.
Eu, que não gosto tanto assim do estilo sertanejo universitário, poderia propor e lutar por uma segunda Expoacre, onde se tocasse apenas música popular brasileira.
Eu, que preferia ver uma girafa masai de 6 metros de altura, do que um boi nelore de 450 quilos, poderia pleitear isso, politicamente – ué, nada me impede. A cultura pode e deve ser construída democraticamente, por cada um de nós, membros dessa sociedade tão mestiça. Quem sabe tenhamos mais e mais Feiras, no futuro? Uma pra cada gosto?
Mas por hoje, tenha em mente o que dá pra fazer: Essa não é a Expoacre dos nossos sonhos, mas é a Expoacre que temos, e por isso, é nosso dever defender a expressão cultural disponível no Parque de Exposições e prestigiá-la, independente de quem seja o político da vez.
Pois não se trata apenas da Expoacre: estamos falando da cultura do nosso povo, uma gente que trabalha e produz, mas que também precisa se divertir, se sentir representada.