27 de abril de 2024

“A música venceu”: confira a coluna do Victor Oliveira

A Música Venceu

Friedrich Nietzsche foi um professor de linguagem que viveu entre 1844 e 1900, viajando por diversas regiões isoladas da Alemanha, sempre buscando o sentido daquilo que ele, diversas vezes, chamou de “potência de vida”.

A história conta que Nietzsche foi um homem muito doente, talvez esgotado fisicamente de tantas decepções e crises existenciais… mas fato é que seus diversos afastamentos foram essenciais para que conseguisse entrar de cabeça no mundo da escrita filosófica e pudesse, antes tarde do que nunca, chegar a conclusão mais sensata de toda sua vida: sem música, não há possibilidade de felicidade, nem de reflexão, nem de filosofia… já que “sem a música a vida seria um erro” – palavras dele no livro Crepúsculo dos Ídolos. Para Nietzsche, a música é a principal via de acesso à qualquer experiência humana de aprovação incondicional da vida, ou seja, a afirmação do real passa por ela, e só ela torna o espírito humano livre. Forte, né?

Para alguns, a simpatia de Nietzsche pela música pode parecer confusa de ser entendida, até porque a gente está falando de filosofia. Mas toda a ciência moderna, aquela que respeita a obra desse professor, que mudou para sempre a história do pensamento, continua sendo influenciada pela essência do que Nietzsche conseguiu nos ensinar: Ao mesmo tempo em que precisamos aceitar a vida como ela é, afirmando suas potencialidades positivas ou negativas, é consenso que a humanidade se orienta através do sentimento de falta, que só consegue ser plenamente preenchido pela arte musical, que pode ser alegre, triste, indiferente, mas sempre serena – aquele impulso que não nos faz esquecer, todo dia, da eterna possibilidade de recomeçar.

Pois bem, pedindo licença à Nietzsche, podemos analisar uma prova bastante circunstancial de que ele estava certo em suas reflexões: neste fim de semana, a cantora e compositora acreana Duda Modesto lançou seu mais novo EP, com 5 canções escritas por ela, uma artista jovem, mulher e mãe – características que talvez sejam a essência de seu espírito pleno e livre.

E não se tratam de quaisquer canções… no álbum vemos músicas que viajam entre o sentimento da completude que surge talvez com uma paixão inesperada, à importância da vigilância quanto a relações tóxicas que podemos ter passado ou eventualmente ainda iremos passar… versos tranquilos que nos lembram da importância do equilíbrio em torno dessa vida corrida que tende a nos afogar em ansiedades de vários tipos… ou ainda, a lembrança de que o agora é a única via que temos disponível para construir futuro, essência da busca por felicidade, por paz e por sentido – que é o que todos buscamos para ter plena saúde física, mental e espiritual, não é mesmo?

Desde a mitologia, os deuses da inspiração, as sinfonias de Johann Sebastian Bach… a música é o que te faz resistir, você percebendo ou não, porque o nosso próprio universo físico só funciona com tanto equilíbrio por causa das ondas sonoras tão profundamente alinhadas no vasto céu que cobre tudo… e é o que traz dor, mas também força pra gente rir, e até, muitas vezes, pra se emocionar – e isso é ser humano – coisa que a gente anda esquecendo.

Seja como for, Duda é apenas um exemplo de alguém que nos lembra que alegria de ser culmina na expressão musical, de uma jovem artista que não desiste, apesar dos pesares que nossa sociedade impõe à classe artística, sempre tão desprezada por discursos retrógrados de conservadores que não entendem bulhufas do que seja a vida de um ser humano, e que sequer entendem que a música, como essa que a Duda faz, é o que nos salva. É nela que nós podemos respirar. É por causa dela que nós conseguimos recomeçar, todo dia, a cada passo.

Por isso, a música venceu. E vai continuar vencendo enquanto existirem Dudas para escrever e cantar, e enquanto existir gente que pausa e ouve, que canta junto, sacode o esqueleto, que incentiva a artista e que sabe que a compreensão de si mesmo e do mundo depende da arte.

Assim, para a felicidade do velho Nietzsche e resistência da experiência sensorial de estar plenamente vivo, procure ouvir o novo EP de Duda Modesto, pois não tenho dúvidas que você vai curtir muito. Taí… disponível nas redes sociais. Agora se por acaso você não curtir, não tem problema: Fala de tudo isso pras outras pessoas e compartilha a música dela, que tenho certeza que vai ter quem goste.

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