“A política do revanchismo” – artigo de Jackson Viana; confira

Os fatos históricos e políticos, embora sejam produtos de diferentes séculos, gerações e momentos da vida social, têm sempre, em sua essência, indiscutível semelhança.
Os conflitos vividos pelos homens em sociedade, utilizando-se de ferramentas, ações, palavras e manobras às vezes distintas, muito se confundem em sua mola propulsora: a natureza humana.

É que o homem, quando analisamos os momentos históricos do passado e as notícias de tempos modernos, não evoluiu tanto quanto deveria, e as mazelas da nossa vida, queira-se ou não, irão vez por outra se repetir.

Na política, apesar de não ser considerada uma ciência exata, é possível calcular muitos acontecimentos. Isso porque jamais se exclui da ação política o principal motivador para a sua construção, que é o interesse pessoal. Sem ele, dificilmente se busca a construção de algo que possa, por consequência, resultar em interesse coletivo.

Por isso, por ser o interesse pessoal o centro das atenções, o sucesso da política chega para aqueles que conseguem melhor conciliar o interesse coletivo com seus benefícios de cunho meramente particular – e não deixar que o eleitor perceba.

Porém, quando falamos de interesse particular, não é preciso levar para o sentido pejorativo da expressão. Nem sempre o interesse é motivado pelo enriquecimento ilícito, pela obtenção de vantagens e ganhos de capital às custas da malversação de patrimônio público.

É possível que o interesse pessoal seja, por incrível que pareça, a vaidade. O status de poder. O desejo de ser amado – ou de despertar o ódio. A vontade de alcançar a fama. De ser bajulado. De ter uma placa com seu nome exposta em uma parede. E tantos outros acessórios da vida política que para algumas pessoas pode ser risível, mas que, para outras, é motivo para matar e morrer.

Fato é que, se você perguntar a qualquer ex-mandatário do que mais sente falta, poucos falarão de salário. Lembrarão, certamente, de outras regalias que o poder proporcionava e, mais ainda, que “político sem mandato, nem o vento bate nas costas” (ditado popular).

Assim sendo, para alcance de satisfação pessoal de seus agentes, a política do revanchismo é tão recorrente que chega a ser vista como natural. Isto é, alcançar o topo do penhasco para ter o poder de, quando chegar lá, empurrar o oponente no abismo. E isso, muitas vezes, é até o único “ganho” que se obtém com o sucesso político – o que para muitos já vale a pena.

Trata-se da manifestação dos valores e do caráter de uma pessoa, o que, quando alçada a posição de poder, expele na vida pública o que há entranhado nos seus princípios – ou na falta deles. Tal revanchismo é um dos tantos interesses particulares que não se concilia, em hipótese alguma, com o benefício coletivo, e que dificilmente encontrará reconhecimento plausível por parte do eleitorado para validar a continuidade de seu poder. Nada ganhamos nós com a vingança de vós.

O que por vezes esquecemos, quando alcançamos determinada posição, é que esse poder é passageiro. Alguns conseguem prolongá-lo; eternizá-lo, ninguém consegue. E que, para a mesma posição da qual viemos, uma hora, mais cedo ou mais tarde, voltaremos. Certamente sem o desejo de também ser vítima da revanche de quem, lá atrás, empurramos no abismo.

Chico Xavier disse que “só o riso, o amor e o prazer merecem revanche”. Mas, Xavier não era político e, na política, esse mandamento não é seguido por tantos. A prática do “olho por olho, dente por dente”, ainda não foi extinta, nem mesmo por parte daqueles que pregam, na atualidade, uma nova política.

Não confundamos, portanto, nova política com político novo. A política ainda é obra humana e por isso falha. E o ser-humano, via de regra, permanece à serviço do pecado, não para servir o Estado, mas para servir-se dele.

– Jackson Viana é Escritor, Poeta, autor de três livros, presidente-fundador da Academia Juvenil Acreana de Letras (AJAL), Embaixador da Região Norte na Brazil Conference at Harvard & MIT e Embaixador Mapa Educação 2023.

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