O biólogo Leandro Siqueira, da Fiocruz e que presta consultoria à Secretaria Municipal de Saúde de Rio Branco, alertou, nesta segunda-feira (19), em declarações exclusivas ao ContilNet, para os cuidados que a população acreana deve tomar em relação à febre maculosa. A doença é uma infecção febril de gravidade variável causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida principalmente pela picada do carrapato-estrela, comum na região do Cerrado e em áreas degradadas da Mata Atlântica e na Amazônia, com a presença do transmissor é mais recorrente em beira de rios e lagos, através de animais como a capivara.
O pesquisador, que já esteve em Rio Branco e conhece a cidade, manifestou preocupação ao saber que pessoas que moram nos conjuntos habitacionais Tucumã e Universitário, em Rio Branco, costumam acampar no gramado na frente do lago do campus universitário da Universidade Federal do Acre (Ufac), local infestado por capivaras, animais hospedeiro do carrapato que adquire a bactéria ao se alimentar do sangue contaminado do animal hospedeiro. Áreas endêmicas para febre maculosa, portanto, costumam ter populações bem estabelecidas da espécie mais perigosa do carrapato, e do melhor hospedeiro amplificador: a capivara.
Quando não são moradores das adjacências do campus universitário, são estudantes que costumam descansar deitado no gramado do local, o que aumenta as chances de picadas dos insetos, diz o pesquisador. Quanto maior a grama, mais chances o carrapato tem de se adaptar ao ambiente.
Há registros de capivaras também às margens do igarapé São Francisco, que corta a cidade numa extensão de mais de 12 quilômetros, começando nas imediações da colônia penal “Francisco D’Oliveira Conde”, no bairro Barro Vermelho, e desembocando no Rio Acre, na Cadeia Velha. Os animais também são vistos às margens do chamado Igarapé “Merdinha”, que liga os conjuntos habitacionais do Tangará, com o Novo Esperança, no primeiro Distrito da Capital.
O pesquisador Leandro Siqueira disse ainda ter informações de que, na Amazônia, boa parte da população, principalmente a ribeirinha, costuma se alimentar da carne de capivara. “Quanto à ingestão da carne não há riscos, porque o calor do fogo no cozimento da carne mata a bactéria. O risco consiste no contato com o animal e a picada do inseto. A saída é a utilização de repelente e evitar áreas infestadas por capivaras”, disse o pesquisador.
Quando o contato com essas áreas for inevitável, é aconselhável que a pessoa utilize roupas brancas ou claras. “A roupa branca e clara ajuda na visualização do inseto nas pessoas”, acrescentou o pesquisador.
O sistema de saúde do país entrou em alerta diante dos casos de febre maculosa registrados no interior do Estado de São Paulo. Até a tarde da última quinta-feira (15), foram registrados, em 2023, 17 casos de febre maculosa no Estado e oito óbitos, incluindo os quatro confirmados desde segunda-feira (12) cujos pacientes estiveram no mesmo evento, na Fazenda Santa Margarida, na região de Campinas. Em 2022, foram registrados 63 casos, com 44 óbitos confirmados. Já em 2021, foram 87 casos e 48 óbitos.
A febre maculosa, também conhecida como doença do carrapato. A transmissão não ocorre de pessoa para pessoa. A infecção acontece após o carrapato ficar fixado na pele do paciente por ao menos quatro horas.
O período de incubação – intervalo entre a data do primeiro contato com a bactéria até o início dos sintomas – da febre maculosa é de 2 a 14 dias. Portanto, é importante considerar as exposições ocorridas nos últimos 15 dias antecedentes ao início de sintomas.
“No município de Rio Branco, não temos notificação de casos suspeitos e/ou confirmados. Nossas equipes da vigilância epidemiológica e da zoonose estão trabalhando em conjunto para atender qualquer demanda de possíveis casos no município”, concluiu.