27 de abril de 2024

“Tenho dois papais”, diz filha de casal gay que se apaixonou dentro de igreja no Acre

Miguel expôs suas fragilidades em uma conversa emocionante com este colunista

Acreano de coração, Guilherme Miguel vive há 20 anos no Acre. O servidor público, graduado no curso de Letras e pós graduado em gestão pública, abriu suas intimidades em conversa exclusiva com a coluna Douglas Richer, do portal ContilNet, na manhã desta quarta-feira (28), o dia que celebramos o Orgulho LGBTQIAPN+. O funcionário público de 38 anos é casado há 9 anos, com Rodrigo Oliveira Sena, de 34 anos, e residem no bairro Calafate, em Rio Branco no Acre. Guilherme é pai de Esther Brandão Texeira, de 9 anos, e hoje compartilha a guarda com sua ex-esposa e recebe o apoio total do seu companheiro desde do nascimento da sua filha, quando assumiram também o relacionamento. 

Guilherme Miguel é pai Esther Brandão Texeira. Foto: Cedida a coluna Douglas Richer/ContilNet Notícias

Miguel expôs suas fragilidades em uma conversa emocionante com este colunista e revela que vivia reprimido por acreditar e seguir conselhos da religião que frequentava. Neste processo, o servidor público teve um relacionamento hétero, que deu origem à sua filha.  Em bate-papo com este colunista, Guilherme Miguel abriu o jogo de sua trajetória: 

“Bem, eu sou Paulista e moro no Acre há 20 anos. Vim morar aqui no ano de 2003, e sempre fui evangélico, de uma instituição muito rigorosa. Sempre soube da minha sexualidade, porém com os ensinamentos da igreja, acabava que acreditando que, como a igreja pregava que sentimentos dessa natureza eram coisas do mal, isso passaria com o tempo e até com casamento, considerando que eu nunca havia me relacionado nem com homem e nem com mulher, (rs).

Enfim, em 2006 eu me casei com uma moça da igreja aqui em Rio Branco .Passaram-se os anos, moramos alguns meses em SP, moramos alguns anos aqui no interior, no Seringal, no Rio Jurupari, que pertence a Feijó, porque a  família dela mora toda lá. Moramos por 6 anos, lá havia uma comunidade da mesma igreja e lá eu auxiliava as pessoas na igreja, dando suporte, ministrando cultos e tudo mais.

Em 2013, viemos para Rio Branco e fomos passar um ano em Sorocaba, minha cidade. Quando foi no final de 2013, ela ficou grávida e no início de 2014 voltamos para Rio Branco. Foi uma surpresa muito grande, pois já tínhamos 7 anos de casados e uma filha. Não foi nada planejado, foi tudo uma surpresa. Porém, muito feliz pela sensação de ser pai, né?! (rs).

Minha filha nasceu em junho de 2104 e seguimos a vida aqui em Rio Branco. Com altos e baixos no casamento, considerando que não foi fácil todos esses anos a convivência, tratando-se de duas pessoas com personalidades totalmente diferentes e ainda tendo essa guerra interna nessa questão pessoal. Mas lembrando que nunca havia me envolvido com nenhuma pessoa do mesmo sexo e nem do sexo oposto. Ela foi meu primeiro relacionamento”, contou ao ContilNet.

Guilherme é pai Esther Brandão Texeira de 9 anos. Foto: Cedida a coluna Douglas Richer/ContilNet Notícias

Em uma nova fase, após vivenciar a experiência de um casamento e a paternidade, o funcionário público descobriu uma nova paixão, em um ambiente difícil e totalmente complicado para expor o sentimento, devidos os ‘ensinamentos’ que a doutrina citada ensina. Guilherme descobriu que se apaixonou por um rapaz dentro da igreja que frequentava. 

“Quando foi em Julho de 2014, viemos morar no bairro em que moro atualmente e, na igreja daqui, conhecemos vários irmãos da igreja, incluindo o Rodrigo, que hoje é meu esposo, (rs). Ficamos todos muito amigos, porém, sem intenção alguma, confesso que jamais passou pela nossa cabeça uma coisa dessa, (rs). Com os dias, a amizade entre a gente foi ficando muito forte, fomos conversando cada dia mais e nos identificando muito. Mas sempre com amizade e respeito”.

“Eu sempre fui uma pessoa muito resolvida e consciente. Enquanto eu estava na igreja, eu era da igreja, não havia meio termo. Sempre deixei claro, os 20 anos que passei na igreja, eu me dediquei a isso, fiz a minha parte. Em momento algum eu me desviei. Porque muita gente pode pensar: “estava na igreja, mas estava enganando as pessoas”. Mas, jamais. Não tenho essa capacidade. Já vou terminando (rs)”. 

“Então quando vimos que começou ficar uma coisa muito forte, conversamos e tentamos nos afastar. Porém, o sentimento já estava ali e seria muito difícil. Até que nós falamos, eu disse: “Não tem condições, eu sou casado, somos os 2 da igreja e assim não podemos ficar”. Tomei a decisão, é a hora de terminar meu casamento. É agora ou nunca (rs). Considerando que já não vinha bem há muito tempo, problemas, enfim”.

Guilherme Miguel e Rodrigo Sena são casados há 9 anos. Foto: Cedida a coluna Douglas Richer

Em bate-papo com este colunista, Miguel desabafou que reuniu os membros da igreja e esposa para comunicar a paixão que estava sentindo por Rodrigo, seu atual companheiro, que frequentava a mesma doutrina. 

“Chamei os irmãos da igreja, chamei minha esposa e falei: “Vou me separar da minha esposa”. Os irmãos relataram que não deveria, enfim, toda aquela história. Até que expliquei que se tratava de um homem e não de uma mulher, porque no pensamento deles, eu estava deixando minha esposa por outra mulher e não por um homem. Até que desistiram. (rs)”.

“Eles perceberam que não estava abandonando minha filha, estava apenas me separando da esposa, porque ela tinha o direito de ser feliz também .Me separei em novembro de 2014, quando a minha filha tinha 5 meses. Foi fácil? Não. Muitos julgamentos por parte da igreja. Como era de se esperar! Não me afastei da minha filha em momento algum, mesmo ela bebê de colo, vínhamos buscar ela, sempre dando toda assistência”.

Guilherme Miguel e Rodrigo Sena são casados há 9 anos. Foto: Cedida a coluna Douglas Richer

Guilherme relatou em entrevista ao ContilNet sua rotina com a filha e seu companheiro. Questionado por este colunista sobre a forma que ela trata seu marido, o funcionário público respondeu. “Uma vez, ela deitou no nosso meio, colocou uma mão em mim e uma no Rodrigo e falou: “Dois papais”. Isso foi demais”, disse, emocionado. 

“Nos fizemos presentes desde o dia que saí de casa até o dia de hoje. Ela foi crescendo e ficando cada vez mais grudada na gente (rs). Sempre teve nosso auxílio em tudo. Ela tem paixão pelo titio Rodrigo dela. É uma criança maravilhosa, que nunca tivemos problemas. Todos os anos no aniversário dela, ela quer comemorar com a gente. Fazemos desde o primeiro ano. Então, pra ela, é a família dela”.

Guilherme Miguel na companhia da filha e do esposo, Rodrigo Oliveira. Foto cedida a coluna Douglas RIcher/ContilNet

“Ela é a nossa alegria. Os dois são muito companheiros em tudo. Tudo ela gosta de fazer com ele, ajudar ele a fazer as coisas. Eles brincam como crianças, (rs). E ele tem muito jeito para as coisas, tipo, eles fazem coisas no cabelo, maquiagem, tiram fotos, fazem vídeos. Tudo que ele gosta (kkk). Ele gosta muito de foto, então, ela é a modelo (kkk). E ela adora”.

“Também questionei com o funcionário público como é a conversa sobre ter um casal gay como pais e se a filha sofre ataques por ter pais homosexuais, e Guilherme revelou que a filha já passou pela situação: “Ela nunca perguntou, mais uma vez ela disse que uma coleguinha falou sobre dois homens juntos e ela simplesmente falou que isso não tinha problema, porque ela tem dois pais. Ela nunca questionou o porquê de nada. Claro que agora que ela fez 9 anos, começa a entender mais, né?! Mas até o momento, ela nunca questionou e também sempre tratou de boa”.

“Lá em casa, ela já sabe que eu sou responsável por algumas coisas e o Rodrigo por outras (rs). Quando vamos sair ela já sabe que o cabelo, maquiagem, roupa é com ele. Eu já cuido de outras partes. Eu falo: “Tu vai com qual roupa?”, e ela responde: “Vou ver com o titio”. De acordo com o funcionário público, nunca sofreram preconceito nas ruas do Acre e nem da família: “Sempre saímos juntos,  com ela, e nunca passamos por nenhum tipo de constrangimento. Eu não tive problemas com a minha família, eles amam o Rodrigo. Meus pais e todos. Achei até que seria mais difícil, mas acabei me surpreendendo (rs)”.

Finalizando a conversa incrível com a nossa coluna, Guilherme Miguel ainda comentou sobre a missão dos cuidados da guarda compartilhada da filha Esther Brandão, ao lado do seu companheiro, Rodrigo Oliveira: “A nossa guarda é compartilhada, eu e minha ex-esposa, mas nunca tivemos problemas. Eu pago pensão todo mês, porém, damos todo suporte necessário. E deixando bem claro que hoje ela mora com a mãe. Foi um caminho bem difícil para chegar até aqui. Mas hoje posso dizer que somos uma família feliz”.

Veja mais fotos da família:

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