Quem sabe o que planta, não teme a colheita; confira o artigo de Jackson Viana

Existem muitos ditos e mitos acerca da tão famosa lei do retorno da vida. Há quem diga que, durante nossa trajetória mundana, tudo o que aqui se faz, aqui se paga. Outros acreditam que quem com o ferro fere, com ele será ferido. Sabemos, cientificamente, que o mundo (no caso, o planeta) de fato dá voltas. Mas, será que nessas voltas, cada um colhe
realmente aquilo que planta?

Entre tantos ditados populares, tantas frases de efeito, crenças justificadas em livro bíblico, duvidar da lei do retorno é uma escolha pessoal, que não está entre as mais recomendadas. Será mesmo que essa famosa “lei”, testemunhada por tanta gente ao longo dos séculos, não passa de um delírio coletivo?

Fato é que exemplos comprobatórios dessa realidade não faltam para serem exibidos. Porém, temer as consequências futuras de um ato momentaneamente tentador não está no feitio de muitas pessoas, tornando-se sempre mais atrativo “se arrepender do que passar vontade” para boa parte das ocasiões.

Preciso aqui, no entanto, discordar respeitosamente da frase acima. Passar vontade, na maioria dos casos, não é menos doloroso do que o arrependimento de algo que não pode ser desfeito. É como se estivéssemos sempre diante de duas ou mais rotas do caminho, e que a partir de nossa escolha, por mais tortuosa que seja a estrada, não é aceito que voltemos atrás.

Decidir pela deslealdade, por exemplo, deveria ser uma escolha considerada somente para aqueles que não precisam da lealdade para nada na vida – e não precisam esperar por recebê-la da parte de alguém. Trair a confiança de quem lhe dedicou alguma consideração, por mais nobres que sejam os motivos, é uma atitude covarde e mesquinha, passível, entre
tantos exemplos, da lei do retorno.

Disso, cabe-nos o questionamento. Você que agiu com deslealdade em algum momento, conta com receber lealdade da parte de alguém? Se a resposta for não, talvez o seu sono seja um pouco mais pesado do que o da maioria. Mas, se a resposta for sim, há um problema sério a ser equacionado. Sendo você vítima de deslealdade a qualquer momento, caberá da sua parte a indignação?

Caberá sua frustração por esperar de alguém um compromisso que você mesmo foi incapaz de cumprir no passado? De onde deverá vir a misericórdia de sua dor, quando essa mesma misericórdia foi negada por você em consideração aquele ou aquela a quem, no passado, você traiu? A sua deslealdade foi diferente da que você recebe agora? Qual é mais dolorosa: a que você praticou ou a que você recebeu?

Tais respostas para tantos questionamentos não são meros balizadores morais ou de princípios éticos da sociedade. É sim, todavia, um direcionamento lógico para a consciência de quem não enxerga o mundo como uma soma de ações que, queiramos ou não, trarão um resultado – resultado esse que nem deve ser questionado, quando fomos nós mesmos
que tivemos o poder de escolher os fatores para calculá-lo.

Em contraponto aos argumentos da lei do retorno, há quem diga desacreditar de tal regramento por ter testemunhado tantas pessoas que praticam “a maldade” continuando a se dar bem em suas vidas. Questiono-lhe, afinal, o que seria, no seu ponto de vista, “dar-se bem” na vida.

Será mesmo que aquilo que você enxerga na vida do outro é o reflexo da felicidade dele? Ver alguém ser bem sucedido em um área da própria vida, área essa na qual você talvez também gostaria de obter sucesso, nem sempre significa que a vida dessa pessoa seja um mar de rosas, e que ela não lida com problemas que possam ser frutos daquilo que foi plantado no passado.

Pelo bem da verdade, só temos o direito de esperar dos outros aquilo que ofertamos ao longo do nosso caminho, e quando a nossa vida pregressa não é de fartas benevolências, o futuro também não haverá de ser.

Fica a reflexão para ser ingerida e, depois, digerida por nossos princípios particulares. Que cada um decida por sua vida o caminho que bem lhe aprouver, mas, logo depois, não espere demais de uma vida na qual tão pouco se investiu em benevolência para com o próximo e em que tão pouca paz se buscou para abrandar, no futuro, a própria consciência.

SOBRE O AUTOR – Jackson Viana é Escritor, Poeta, autor de três livros, presidente-fundador da Academia Juvenil Acreana de Letras (AJAL), Embaixador da Região Norte na Brazil Conference at Harvard & MIT e Embaixador Mapa Educação 2023.

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