Sofrendo os impactos de um El Niño intenso que deve atingir seu auge em dezembro, a região amazônica tem a pior seca em 102 anos. O estado do Acre não se encontra diferente dos demais estados da Amazônia. A seca dos rios acreanos tem causado inúmeros transtornos ambientais e econômicos. Um cenário ainda mais preocupante tem sido alerta para a Defesa Civil, que é a estiagem de 2024, que pode ser ainda mais severa que a deste ano.
Com o baixo nível dos rios e igarapés acreanos, a população tem sofrido com a falta de água potável, caso que em Rio Branco, tem sido solucionado com a distribuição de água em comunidades rurais, feita pela prefeitura. Outra preocupação tem sido econômica, segundo o coordenador da Defesa Civil, tenente-coronel Cláudio Falcão. As plantações estão sendo adiadas em virtude da estiagem prolongada, fazendo assim, com que os prejuízos nas colheitas sejam, já, uma realidade para o próximo ano.
“Os plantios que eram para ser feitos agora em outubro não vão acontecer, e isso vai ficar com uma sequela futura. Nós temos os prejuízos econômicos que são relacionados aos plantios e as colheitas, a bacia leiteira, a piscicultura, tudo isso. Essas sequelas vão ficar para o ano que vem, pois tendo prejuízo esse ano, vai ter que se recuperar ano que vem”, explicou.
Falcão destacou, também, como grave a sequela econômica que a intensa seca poderá deixar no Acre para os próximos meses.
Impactos ambientais
Os impactos ambientais que a bacia amazônica tem sofrido são inúmeros. No estado do Amazonas, cidade de Tefé, por exemplo, centenas de botos morreram em virtude da alta temperatura da água do lago Tefé. O caso ganhou grande repercussão em todo o país.
No Acre, há registro de morte de dezenas de peixes, ocorrido há cerca de um mês, no Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo. O caso ascendeu alerta para a crise hídrica no estado, em virtude da seca. No dia 20 de outubro, o Governo emitiu uma nota técnica afirmando que a temperatura elevada, somada ao baixo nível do rio, teria diminuído a disponibilidade de oxigênio, ocasionando a mortandade dos peixes.
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Neste mês, outro caso semelhante aconteceu dessa vez, no Rio Purus, em Manoel Urbano. Imagens divulgadas nas redes sociais mostravam diversas arraias boiando nas águas. Acredita-se que as mortes dos animais tenham sido decorrentes do aumento da temperatura.
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Além disso, comunidades rurais e indígenas no interior do estado estão sofrendo com a falta de água potável, o que tem colocado em risco à saúde de milhares de pessoas que dependem dos rios e igarapés para sobreviver. Um exemplo é a aldeia Apiwtxa, dos Ashaninkas do Rio Amônia, que precisaram construir e recuperar cacimbas. Com o aumento da temperatura e com a estiagem severa que afeta a região, o acesso à água tem se tornado difícil.
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Previsão para 2024
Um período mais seco que o normal já era aguardado para a região amazônica. Sempre que ocorre o fenômeno conhecido como El Niño – quando as águas do Oceano Pacífico ao longo da linha do Equador ficam mais quentes –, o transporte de umidade pelo ar para a Amazônia e o Nordeste é prejudicado. Apesar de prever antecipadamente a chegada do El Niño, o que os pesquisadores e cientistas não podiam prever era intensidade do fenômeno.
Em conversa com a reportagem do ContilNet, o coordenador da Defesa Civil, Cláudio Falcão alerta para a previsão de seca ainda mais severa em 2024. “Além dessa seca prolongada que temos agora em 2023, infelizmente a previsão que nós temos para o ano que vem é de uma seca mais prolongada e mais severa”, revelou.
Cláudio Falcão explicou que o estado precisa está preparado para enfrentar a situação. “A gente tem que se preparar para que venha o pior, mesmo que ele não venha, mas temos que está preparado para enfrentar essas secas mais severas a partir de agora”, ressaltou, explicando que a previsão se dará em virtude da região ainda está sob os efeitos do El Niño.
Ações antecipadas
Prevendo um futuro não tão distante preocupante com relação à seca, a Defesa Civil já está se antecipando para a chegada do próximo verão, com um plano de contingência contra as queimadas, saúde, dentre outras áreas.
“Estamos com o mesmo planejamento, e aperfeiçoando para o ano que vem, com a seca mais severa, para que não tenhamos prejuízo de fogo e na saúde humana. Na Defesa Civil, estamos vendo amplamente a questão da saúde, o risco de fogo, o desabastecimento, a perda de produção, tudo isso a gente está colocando dentro de um plano para minimizar os impactos, tendo em vista que não podemos impedir que o fenômeno aconteça”, finalizou.