Tetris tem competitivo, Mundial desde 2010 e heptacampeão morto aos 39

Game voltou aos holofotes com recorde de adolescente norte-americano, mas possui uma longa história competitiva

De volta aos holofotes por causa do recorde obtido pelo adolescente norte-americano Willis Gibson, de 13 anos, o Tetris tem um cenário competitivo estruturado e um campeonato mundial existente desde 2010 – mais longevo até do que o Worlds de League of Legends, iniciado em 2011. Apesar de não estar entre as modalidades mais populares dos esportes eletrônicos, o Tetris se destaca por contar com diversos torneios mesmo após 40 anos da criação do game, em 1984.

Jogadores durante partidas do Classic Tetris World Championship de 2023 — Foto: Divulgação/Classic Tetris World Championship

Jogadores durante partidas do Classic Tetris World Championship de 2023 — Foto: Divulgação/Classic Tetris World Championship

Essa origem é preservada até os dias de hoje no campeonato mundial da modalidade, chamado Classic Tetris World Championship. Os competidores jogam a versão original do Tetris, de 1989, em consoles Nintendo Entertainment System (NES), com monitores de tubo de raios catódicos (CRT).

Com a mesma configuração, portanto, que Willis conseguiu chegar ao estágio de travamento que o fez ser o primeiro ser humano a “zerar” o Tetris em 40 anos. A diferença é que, nas competições, a disputa é pelas maiores pontuações.

Primórdios dos esports

O competitivo de Tetris remonta a 1990, quando jogos muito conhecidos da atualidade, como LoL, Counter-Strike e StarCraft nem existiam. No ano seguinte ao lançamento do Tetris nos Estados Unidos, a Nintendo organizou o Nintendo World Championships, um dos marcos da história do que hoje chamamos de esportes eletrônicos.

O evento contou com disputas em 29 municípios dos Estados Unidos, nos jogos Super Mario Bros., Rad Racer e Tetris, no console NES. Foram três categorias, de acordo com a faixa etária: abaixo de 11 anos, de 12 a 17 anos e 18 anos ou mais. Os participantes tinham de jogar os três games, cujas pontuações eram somadas.

As finais ocorreram no parque temático da Universal Studios, em Los Angeles, e o vencedor de cada categoria recebeu US$ 10 mil e uma televisão de 40 polegadas de premiação.

Apesar da divisão por idades, houve uma disputa informal entre os ganhadores de cada categoria, com Thor Aackerlund se sagrando o campeão. Ele se tornou, a partir dali, uma espécie de porta-voz do competitivo de games da Nintendo.

Jonas Neubauer segurando o troféu do Classic Tetris World Championship de 2017, o sétimo e último conquistado pelo norte-americano antes de morrer aos 39 anos, em 2021 — Foto: Divulgação/Classic Tetris World Championship

Jonas Neubauer segurando o troféu do Classic Tetris World Championship de 2017, o sétimo e último conquistado pelo norte-americano antes de morrer aos 39 anos, em 2021 — Foto: Divulgação/Classic Tetris World Championship

O Mundial e uma estrela

Em 2009 houve outro marco na história do Tetris competitivo. Foi quando o norte-americano Harry Hong se tornou o primeiro jogador a alcançar 999.999 pontos, a maior pontuação possível no jogo.

O recorde, chamado de “Max-Out”, inspirou a realização de um documentário sobre o competitivo de Tetris e motivou a reunião dos mais importantes jogadores da época em uma disputa presencial que decidiria o melhor de todos eles.

Foi assim que nasceu o Classic Tetris World Championship em 2010. O norte-americano Jonas Neubauer venceu a primeira edição. Ele se tornaria uma lenda da modalidade, com sete títulos mundiais, antes de morrer repentinamente em 2021.

Campeonato integrante do circuito do Classic Tetris World Championship em 2013 — Foto: Divulgação/Classic Tetris World Championship

Campeonato integrante do circuito do Classic Tetris World Championship em 2013 — Foto: Divulgação/Classic Tetris World Championship

Depois de as duas edições iniciais serem realizadas em Los Angeles, o campeonato mundial passou a ocorrer anualmente em Portland, no Estado de Óregon, a partir de 2012. Isso só não aconteceu em 2020 e 2021, que teve disputas online por conta da pandemia de Covid-19.

Apesar do caráter mundial do nome do evento, a esmagadora maioria dos jogadores participantes é proveniente dos Estados Unidos.

Heptacampeão mundial, em 2010, 2011, 2012, 2013, 2015, 2016 e 2017, Jonas morreu aos 39 anos, em janeiro de 2021, devido a um mal súbito causado por uma arritmia cardíaca.

Naquele ano, o troféu do Classic Tetris World Championship recebeu o nome de Jonas Neubauer Memorial Trophy, em homenagem ao astro. O troféu tinha impressa uma frase do competidor.

— Se você é um jogador de alta visibilidade, cabe a você mover a comunidade em uma direção positiva — dizia a declaração de Jonas, cuja trajetória impactou a história do competitivo de Tetris para sempre.

Outros campeonatos pelo mundo

O circuito do Classic Tetris World Championship conta com outros campeonatos, assim como o cenário competitivo tem disputas em outros países.

Já houve torneios em Hong Kong, Singapura, Alemanha, Noruega, Taiwan, Austrália e Polônia.

Desde 2015, a capital da Dinamarca, Copenhague, recebe anualmente o Classic Tetris European Championship, destinado ao público europeu.

Há ainda uma série de competições mensais, disputadas pela internet, chamada Classic Tetris Monthly (CTM).

Apesar do cenário movimentado e longevo, pode-se dizer que o competitivo de Tetris é underground, com estruturas e premiações bem mais modestas do que outras modalidades de esports.

O World Championship do ano passado, por exemplo, teve premiação de US$ 20 mil (equivalentes a cerca de R$ 100 mil na cotação atual). Uma pequena fração em relação aos US$ 2,25 milhões do Worlds 2023 e menor ainda do que os US$ 40 milhões do The International 2021 de DotA 2.

Quarentão em renovação

Embora quarentão, Tetris vem se renovando. E Willis, o adolescente que zerou o jogo, é uma prova disso. Ele chegou ao 3º/4º lugar do campeonato mundial do ano passado, como o mais jovem jogador a disputar o torneio.

Willis começou a jogar aos 11 anos, ao descobrir o game no YouTube quando estava em busca de uma diversão. Poderia ser qualquer título, já que a variedade de opções, bem mais elaboradas e tecnológicas, é enorme. Mas o menino preferiu um clássico e entrou para a história.

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