Vídeo: conheça a casa que há quase cem anos acolhe hansenianos no Acre

O espaço guarda histórias de pessoas que hoje fizeram dele sua a casa

Cercada de preconceitos, e ainda disseminada pela falta de informações, a hanseníase é uma doença infecciosa com capacidade de ocasionar lesões neurais e outras incapacitações. No Acre, foram registrados 109 novos casos da doença em 2023. Neste domingo (28), é celebrado o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase, voltado para a luta contra os estigmas que rodeiam a doença.

Para falar um pouco mais sobre o tema, o ContilNet foi até a casa de acolhida Souza Araújo, que existe desde 1928, localizada no quilômetro 10 da BR 364, sentido Rio Branco – Porto Velho, onde atualmente moram 30 pessoas, que são mantidas graças ao trabalho da Diocese de Rio Branco, em convênio do Governo do Acre.

A casa de acolhida existe há 95 anos/ Foto: Juan Diaz/ContilNet

A diretora do espaço, irmã Celene, conta que os moradores do local recebem todo o suporte médico, alimentação e cuidados diários. “Aqui nós temos uma equipe de saúde que trabalha diariamente cuidando dos pacientes, com médico, enfermeiras e fisioterapeutas. Além disso, temos toda a equipe de apoio, que prepara as refeições, limpeza, dentre outros serviços”, ressalta.

O espaço acolhe atualmente 30 pessoas/ Foto: Juan Diaz/ ContilNet

O espaço, que hoje sobrevive em meio às dificuldades financeiras, guarda histórias de pessoas que hoje fizeram dele sua casa, como é no caso de Fátima, nascida em Tarauacá, e que há 39 anos mora no local.

“Eu fiquei internada por quase um ano no Hospital de Base, em Rio Branco, e quando minha mãe faleceu, eu não tinha para onde ir e o médico disse que eu não tinha condições de me cuidar sozinha. Quando cheguei aqui, chorava tanto. Até hoje estou aqui, digo que é minha casa, cheguei aqui em 1986 e acho que só vou sair quando morrer”, relata.

Fátima é natural de Tarauacá e foi morar no local após sua mãe falecer/ Foto: Juan Diaz ContilNet

Ao contrário de Fátima, Maria das Graças, de 69 anos, natural de Boca do Acre, mora a poucos meses na casa de Acolhida. Emocionada, ela conta que decidiu morar no local após sofrer preconceito de seus vizinhos, no bairro em que morava, em Rio Branco.

Maria das Graças mora no local desde outubro de 2023/ Foto: Juan Diaz/ContilNet

“Eu trouxe todas as minhas coisas quando vim morar aqui. No bairro em que eu morava eu sofria muito preconceito, meus vizinhos não se aproximavam de mim por conta de eu ser hanseniana. Eu não sei porque as pessoas tem tanto preconceito”, desabafa Maria.

Apoio espiritual

Além de todo um acompanhamento a Casa de Apoio Souza Araújo oferece apoio espiritual aos moradores. Essa parte é realizada pelo padre Luis Pieretti, diretor espiritual da instituição. Segundo ele, o conforto emocional é importante para as pessoas que convivem com a doença.

Padre Luis Pieretti é diretor espiritual da casa de acolhimento/ Foto: Juan Diaz/ContilNet

“Nem todos são católicos, e a gente respeita isso. Temos as missas aos domingos, onde convidamos não só os moradores da instituição, mas também dos bairros da região. Além disso, tentamos levar um conforto para aqueles que não são católicos, respeitando sua fé, e para aqueles que não acreditam, buscamos mostrar a fé na vida e nos seus mistérios”, explica.

Importância do diagnóstico e tratamento

A hanseníase tem cura, mas pode causar incapacidades físicas se o diagnóstico for tardio ou o tratamento não for realizado adequadamente, pelo período preconizado, já que atinge pele e nervos. Maria das Graças explica que fez todo o tratamento e atribui a isso as poucas sequelas que ficou da doença.

“Todos os meses eu pegava meus remédios na unidade de saúde e tomava. Acho que por conta disso eu me livrei de ficar pior. Por isso eu vejo a importância do tratamento”, disse.

Além do diagnóstico, o SUS oferece tratamento para hanseníase, disponível em todas as unidades públicas de saúde. A poliquimioterapia (PQT), uma associação de medicamentos que evita a resistência do bacilo deve ser administrada por seis meses ou um ano a depender do caso.

Os pacientes deverão ser submetidos, além do exame dermatológico, a uma avaliação neurológica simplificada e sempre receber alta por cura.

Dificuldades enfrentadas

Apesar de atuar há mais de 90 anos no acolhimento a pessoas com hanseníase, a casa Souza Araújo se encontra em dificuldades financeiras. O que faz com que todos os serviços acabem sendo comprometidos, entre eles, a manutenção da estrutura física, na qual um pavilhão inteiro já teve que ser desativado.

A estrutura física do local está comprometida/ Foto: Juan Diaz/ContilNet

Para complementar a alimentação dos moradores da instituição, a Diocese investiu na criação de animais para consumo próprio do local. São criados gado de corte, vacas leiteiras, peixes, aves e suínos.

De acordo a diretora da casa, irmã Celene, foi adotada a ação para cortar gastos com alimentação, uma vez que com os poucos recursos financeiros,  acabam recebendo menos insumos para alimentação dos pacientes.

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