Famosos no mundo inteiro por causa do envolvimento do patriarca Darli Alves da Silva no assassinato do ambientalista Chico Mendes, crime ocorrido há 36 anos, em Xapuri, membros da nova geração da família parecem ter aderido de vez à vida criminosa. É o que revela um relatório do setor de inteligência do Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do Estado (MPAC) ao citar um dos netos do velho fazendeiro como liderança ativa do CV (Comando Vermeho), facção criminosa a qual pertence um dos fugitivos do presídio de Mossóró, Deibson Cabral, o Tatu, de 33 anos, que vem a ser padrinho do faccionado da família Alves.
O jovem criminosos atende por Artur Ramoile Alves da Silva, de 34 anos, de apelido “Russo”. O rapaz nasceu poucos anos depois de seu avô e seu tio Darci Alves, apontado como o executor, terem sido identificados como assassinos de Chico Mendes, crime pelo qual foram condenados, em 1991, a 19,5 anos de prisão pelo Tribunal do Juri de Xapuri. As condenações já foram cumpridas e hoje, pai e filho, vivem em liberdade.
“Russo” se apresenta aos demais parceiros de facção “afilhado” (condição exigida para se entrar na facção – ou seja, ter que ser apadrinhado por alguém de ação mais antiga) de Deibson Cabral, o Tatu, que continua em fuga da Penitenciária Federal de Mossoró (RN). Ao lado de Rogério da Silva Mendonça, seu compassar de crimes desde que estavam presos no Acre, até julho de 2023, quando foram transferidos após uma rebelião no presídio Antônio Amaro Alves, em Rio Branco, o criminoso entrou para o sexto dia como foragido. Os dois estão na lista da Interpol e estão entre os criminosos mais procurados do mundo.
O relatório de inteligência do Ministério Público do Acre aponta Artur Ramoile como perigoso. “Verificou-se ainda que Russo referendou (apadrinhou) o ingresso de outros faccionados, contribuindo assim para o crescimento da organização criminosa”, diz parte do relatório, que é baseado em documentos do Comando Vermelho encontrados no celular de um membro do grupo. Deibson e Artur estão entre os fundadores da facção criminosa no Acre e os dois já foram condenados por organização criminosa por causa do vínculo com o CV, aponta o MPAC.
Russo coleciona casos de latrocínio, o roubo seguido de morte, assassinatos, assaltos e tentativas de fuga do sistema prisional, onde ele segue preso, desde a juventude. Uma conversa interceptada pela Polícia Civil do Acre entre duas mulheres ligadas ao Comando Vermelho, em 2018, revelou que Russo teria discordado do conselho da facção e sido agredido por conta disso.
De acordo com relatório da interceptação, uma das mulheres relata que membros da facção estavam planejando uma fuga do presídio estadual de segurança máxima Antônio Amaro Alves, mas o plano teria sido abortado por conselheiros do CV.
“Os caras iam fugir e o irmão do conselho pegou ele. Foi um bagulho doido. Ele (Russo) contou quase chorando, porque ele (Russo) é da lei dos trinta, não sai da cadeia mais. Ele contou assim: ‘Esse Comando Vermelho é uma farsa’. Eu vi ódio na cara dele. Os irmãos do conselho pegou ele pelo pescoço, e ele não pode reagir porque o João, que é um dos conselheiros, estava com uma faca para furar ele”, descreveu uma das mulheres na conversa.
A primeira vez de Artur na prisão foi quando ele tinha 17 anos de idade, quando foi apreendido em em Xapuri (AC), acusado de matar o estudante Raele Lorenzone. Na época, a mãe da vítima disse que o crime foi anunciado: “Ele disse que ia matar meu filho e matou. Avisei a polícia, mas ninguém levou a sério”, contou a senhora.
Maior de idade, Artur foi condenado a mais de 50 anos de prisão por dois latrocínios com arma de fogo, que foram cometidos em um mesmo final de semana. Morreram o gerente de loja de roupas Carlos Luiz da Silva e o vendedor de frutas Raimundo Lustosa Leão, nos dias 28 de fevereiro e 1º de março de 2009.
“A personalidade do réu é de pessoa violenta e destituída de um mínimo de solidariedade, com total desprezo à dignidade e à vida humana”, escreveu a juíza Denise Castelo Bomfim, hoje desembargadora do Tribunal de Justiça, na na sentença que o condenou.
Na manhã de 11 de janeiro de 2016, ele e outros sete presos serraram as grades do presídio estadual, mas foram contidos por uma equipe de agentes prisionais.
Já em 2013, Artur e um outro detento aguardavam uma audiência na cela do Fórum de Rio Branco, capital do Acre, e saíram correndo algemados quando a polícia abriu as grades. Artur acabou caindo e foi recapturado.
Em uma entrevista para a TV Record em 2015, quando foi acusado de tentar matar um outro detento durante o banho de sol, batendo a cabeça da vítima contra o concreto e deixando-a em estado grave. Russo aproveitou a câmera ligada para reclamar do sistema prisional.
“Ao contrário do que o policial civil ali acabou de falar, o presídio não recupera ninguém. O Estado não se esforça para recuperar ninguém. A realidade é essa, nem a nossa comida que a família compra eles deixam entrar. É perseguição contra preso, contra visita do preso, e ainda somos taxados de monstro por todo mundo”, reclamou.