Papa Francisco e Milei selam a paz no Vaticano

Encontro durou 70 minutos, o mais longo entre o Sumo Pontífice e um chefe de Estado argentino; Milei levou alfajores e ataques do passado não foram mencionados

HANDOUT/VATICAN MEDIA/AFP

Se durante a campanha eleitoral de 2023 o então candidato à Presidência argentina, Javier Milei, se referiu ao Papa Francisco como “representante do maligno na Terra”, nesta segunda-feira o presidente da Argentina e o Sumo Pontífice tiveram um primeiro encontro no Vaticano em clima de paz e amor, regado a alfaiares e biscoitos de limão, entre outros presentes. Declarações passadas de Milei sobre o Papa, a quem também chamou de “jesuíta que promove o comunismo”, foram esquecidas numa audiência que durou 70 minutos, a mais longa já concedida por Francisco a um chefe de Estado argentino.

As imagens divulgadas pelo Vaticano e reproduzidas pela Casa Rosada e pelo presidente em suas redes sociais mostram um Milei sereno e um Papa cordial. Houve troca de agradecimentos, presentes, e falou-se, inclusive, sobre a possibilidade de que Francisco visite a Argentina em 2024. Desde que foi escolhido como sucessor de Bento XVI, em março de 2013, o primeiro Papa argentino e latino-americano da História não voltou a pisar seu país. Francisco esteve no Brasil, Chile e Paraguai, entre outros países da região, mas, por motivos principalmente políticos, não retornou à Argentina.

Muitos imaginaram que depois dos ataques de Milei durante a campanha, a eleição do líder da ultradireita argentina tornaria ainda mais difícil uma visita de Francisco ao país. Mas nesta segunda, quando o assunto foi tocado, o Papa, informaram meios de comunicação argentinos, disse que uma eventual viagem à sua terra natal é uma “hipótese”.

O longo encontro entre o presidente e Francisco foi marcado por um clima de “simpatia e amizade”, segundo declarou o Secretário de Culto argentino, Francisco Sánchez.

— O encontro ocorreu de maneira muito cordial, com muita simpatia e muita amizade entre ambos — disse Sánchez.

Na véspera, na cerimônia de canonização da primeira santa argentina (María Antonia de Paz y Figueroa, conhecida como Mama Antula), o Papa e Milei se encontraram rapidamente e trocaram algumas palavras. O presidente argentino perguntou se podia abraçar Francisco, e o Sumo Pontífice fez uma brincadeira sobre o cabelo de Milei.

Nesta segunda, além de conversarem sobre a realidade econômica, social e política do país, Francisco e o presidente argentino trocaram presentes. Milei levou alfajores da marca Cachafaz, biscoitos de limão da Havanna e uma cópia da carta manuscrita escrita pelo chanceler José María Gutiérrez a Juan Bautista Alberdi, designado-lo como representante da Argentina na Europa, em 1854, entre outros obséquios.

O Papa, por sua vez, entregou ao chefe de Estado argentino uma medalha de bronze inspirada no baldaquino de São Pedro, uma coleção de seus escritos com encadernação em couro vermelho e detalhes dourados, incluindo as encíclicas Laudato si’ e Fratelli Tutti. Francisco também deu a Milei uma cópia da mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, com foco na Inteligência Artificial.

Depois de uma conversa amena entre os dois, participaram do encontro a secretária geral da Presidência argentina, Karina Milei, irmã do presidente, a chanceler Diana Mondino, o ministro do Interior Guillermo Francos, a ministra do Capital Humano Sandra Pettovello, o Secretário de Culto e o novo embaixador da Argentina em Israel, o rabino marroquino Axel Wahnish, amigo e consultor espiritual do chefe de Estado argentino.

Após o encontro, o Vaticano publicou um comunicado oficial destacando a “satisfação” do Papa pelas “boas relações entre a Santa Sé e a República Argentina, e o desejo de reforçá-la ainda mais”. Consultado por jornalistas locais, Milei afirmou que o Papa “se mostrou satisfeito pelo programa econômico e de contenção social”de seu governo.

Nem uma menção a rixas do passado, nem as tensões que o presidente enfrenta em seu país com a Confederação Episcopal Argentina pela crise social, aumento da pobreza e cortes de despesas que afetam programas de ajuda a refeitórios populares, entre outros.

Em seu país, a relação entre Milei e a Igreja não é tão cordial como a que o presidente argentino tenta construir com o Papa — depois dos ataques mais duros já lançados por um chefe de Estado da Argentina contra um Sumo Pontífice. Altas autoridades eclesiásticas argentinas têm feito alertas sobre o aprofundamento da crise social e responsabilidade o governo pela deterioração da situação nos setores mais humildes.

Durante a campanha, padres argentinos se referiram ao presidente como uma pessoa “desequilibrada emocionalmente”. Um deles foi o padre Mariano Oberlin, de uma paróquia da província de Córdoba, um dos que realizou missas em defesa do Papa, em meio aos ataques de Milei.

— Nos perguntamos se uma pessoa desequilibrada emocionalmente, que não consegue lidar com pessoas que pensam diferente dela sem gritar ou agredir, pode suportar as tensões que implicam presidir um país — disse o padre Oberlin, em sua homilia, durante a campanha presidencial argentina.

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