Funai no Acre admite invasão de facções em terras indígenas e fala de insegurança de servidores

O problema expandiu e facções criminosas começaram a invadir terras indígenas, em áreas necessárias para o tráfico de drogas na região amazônica

Nos últimos anos, denúncias de casos de jovens indígenas sendo cooptados por organizações criminosas na Amazônia, chegaram ao conhecimento das autoridades e passaram a ser investigadas.

Agora, o problema parece ter se expandido e facções criminosas começaram a invadir e se apropriar de terras indígenas, áreas necessárias para o tráfico de drogas na região amazônica.

Número de denúncias sobre invasões aumentaram nos últimos anos/Foto: Marcos Santos/Secom

Em entrevista ao ContilNet, o coordenador regional da unidade descentralizada da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) no Acre, Júnior Manchineri, confirmou as denúncias e declarou que o problema não é tão recente como se imagina.

Ele, que também é uma liderança do povo Manchineri, destacou que muitas dessas denúncias são sigilosas e restritas. Além disso, boa parte da investigação precisa ser coordenada pelos órgãos de segurança, como a Polícia Federal.

“A Funai faz esse reconhecimento. Vemos como é sensível essa problemática. Muitos indígenas são cooptados pela pelas facções criminosas. E e dentro desse eixo, para além de reconhecer essa presença, realmente precisam ser feitos trabalhos interinstitucionais por parte de das instituições do governo federal e do governo estadual, para coibir a presença das facções e principalmente, enfrentá-las”, disse.

Junior Manchineri, coordenador da Funai no Acre/Fotos: Lohana Chaves/Funai

No último mês, o jornal O Varadouro publicou uma matéria que revelou que o envolvimento de facções criminosas com aldeias Huni Kuĩ e na cidade de Jordão, sobretudo na venda de drogas entre os jovens. A droga, principalmente cocaína, tem chegado à noite nas aldeias do Acre e os traficantes ameaçam indígenas. Anteriormente, bebidas alcoólicas já ameaçavam as comunidades indígenas. Com o avanço das facções, a comunidade decidiu restringir a entrada de terceiros à T.I. Kaxinawá do Baixo Jordão.

Manchineri lembrou que em março do ano passado, o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, veio ao Acre e participou de um seminário sobre seguranças nas fronteiras, em Brasiléia. Na época, a Funai entregou ao ministro um dossiê, elaborado com todas as informações referentes às invasões de facções criminosas em terras indígenas no estado.

Na última semana, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, agora chefiado pelo ministro Ricardo Lewandovsky, assinou com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um contrato que destina R$ 318,5 milhões do Fundo Amazônia ao Plano Amazônia: Segurança e Soberania (AMAS).

Na fotografia, as aldeias dos Huni Kuin, em Assis Brasil/Foto: Jardy Lopes

O valor deverá ajudar o Acre justamente nesse questão. O programa é conhecido como uma das principais estratégias de implementação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e foi instituído, por meio de decreto, em julho de 2023, com o objetivo de fortalecer a presença das forças de segurança na região.

Outro problema

Além da invasão nas comunidades indígenas, Manchineri expõe outro problema: a falta de segurança dos servidores da Funai, que estão diretamente na linha de frente de enfrentamento das invasões.

O Brasil é um dos países que mais mata ambientalistas. Pessoas que protegem a terra. Sejam indígenas ou indigenistas. Recentemente nós vimos um assassinato de um servidor do Ibama, que trabalhava em conjunto em conjunto com a Funai em uma brigada. Foi assassinado na porta de casa no Tocantins. Por isso é uma temática muito sensível.

O coordenador destacou os desafios do trabalho dos servidores públicos da Funai.

A Funai não tem o poder de polícia regulamentada, é um processo que está tramitando no Congresso Nacional. Por isso é necessário que haja a ajuda da força policial.

PUBLICIDADE