Em uma carta de confissão assinada e anexada ao processo da Operação Lares, a servidora Rosandra Maia, ex-servidora da Secretaria de Habitação e Interesse Social (Sehab) presa no último dia 26 de abril acusada de operar as negociações fraudulentas instaladas dentro da secretaria, abriu o coração do esquema e denunciou uma série de pessoas do governo que teriam entregue ilegalmente casas populares, como é o caso da chefe da Casa Civil, Márcia Regina.
A Operação Lares fora desencadeada pela Polícia Civil com o objetivo de averiguar a venda e direcionamento de moradias populares por funcionários da Sehab.
Rosandra afirmou que as fraudes na distribuição das casas atendiam a uma esquema eleitoral para a reeleição em 2014 do governador Tião Viana.
Segundo ela, um dos chefes do esquema era o ex-secretário de Habitação e Interesse Social Rustênio Costa e que a chefe da Casa Civil, Márcia Regina, possuía uma lista de pessoas a serem beneficiadas ilegalmente.
A carta cita que havia 125 pessoas que seriam agraciadas por Márcia Regina e que esta distribuição colaborava, direta e indiretamente, para um esquema eleitoral montado com o intuito de reeleger Tião Viana em 2014.
“Dizia a lenda que pessoas investiam dinheiro para eleger o homem [governador] e ele passava cinco, 10, 20 casas para seus testas-de-ferro venderem e se recapitalizarem […] Ouvi da Cleuda [Cleuda Maia, uma das líderes do esquema], que a senhora Márcia Regina [amiga de Cleuda] havia dado ordem para a sua lista. A lista de pessoas atreladas a ela tiveram essas despesas [de cartório] em off pagas pelo governo”, diz trecho da carta.
No mesmo documento, Rosandra relata que Rustênio Costa ganhou milhões com o esquema ilegal e questiona quantos favores teriam sido pagos–por pessoas do Executivo-com a venda das unidades habitacionais.
A servidora lembra que o ex-secretário teria comprado uma fazenda de R$ 2 milhões e que estranhou o fato de Cleuda Maia, uma das mentoras do esquema, ter sido convidada por Jamyl Asfury para compor a equipe da Sehab quando sucedeu Rustênio.
Para a servidora, a nomeação de Cleuda soava como uma conivência de Jamyl com a continuação do esquema.
Antes do fechamento dessa reportagem, no início da noite, a equipe da ContilNet entrou em contato com a secretária de Comunicação, Andrea Zilio, e foi informada de que a equipe governista estava reunida naquele exato momento para tratar do assunto e que Márcia Regina não se manifestaria.
“Quando terminarmos [nos pronunciaremos]. Estamos justamente tratando disso. O Leonildo Rosas, porta-voz do governo, vai falar sobre o assunto”, disse Zílio por telefone.
Poucos minutos depois, a secretária enviou nota onde afirma que as investigações em curso foi uma iniciativa do próprio governo e que tomarão medidas judiciais contra qualquer tipo de atitude “covarde, leviana e mentirosa”.
O ex-secretário Rustênio não foi encontrado pela reportagem para falar sobre as acusações em que é citado.