“Para o cérebro a medicina não tem suporte”, diz médico do Albert Einstein sobre morte encefálica

Médicos de Rio Branco e Cruzeiro do Sul receberam na última terça-feira, 25, capacitação para o diagnóstico de morte encefálica. Durante o curso, ministrado por uma equipe do Hospital Israelita Albert Einstein, os profissionais ficaram por dentro das mudanças ocorridas na resolução 2.173 do Conselho Federal de Medicina (CFM), como comunicar aos familiares sobre a morte do ente e, ainda, doação de órgãos.

Uma das principais mudanças na resolução foi quanto ao tempo entre um teste clínico e outro para a constatação da morte encefálica. O intervalo era de 6 horas, mas agora passou a ser de 1 hora.

O médico intensivista do Abert Einstein, Eduardo Casaroto, considera a mudança de suma importância, pois evita que o organismo e órgãos do paciente em morte encefálica entrem em desequilíbrio, prejudicando uma possível doação.

“Uma vez iniciado o processo de morte encefálica é mais difícil manter o equilíbrio dos órgãos e sistemas. Pensando que esse paciente vá ser um doador de órgãos, a demora prejudica a captação dos órgãos. Um intervalo menor entre os testes diminui as chances de um órgão ser transplantado e não dar certo, por exemplo. Então, hoje, acima de dois anos de idade é uma 1 horas de intervalo entre uma prova e outra”, explicou o médico Eduardo Casaroto.

O que é morte encefálica?

Morte encefálica é a definição legal de morte, e consiste na paralisação total das atividades cerebrais. É um momento delicado, pois exige uma boa comunicação entre médico e a família do paciente. Na maioria das vezes os parentes não compreendem a definição do caso.

Como entender a morte encefálica?

A compreensão da morte encefálica é muito difícil, até mesmo para a equipe de saúde, imagine para quem é leigo no assunto. A morte encefálica é diferente daquela ideia de morte em que o coração parou de bater. Existe um tempo entre o cérebro parar de funcionar e o restante dos órgãos pararem de funcionar. Se há morte encefálica, há morte do organismo como um todo.

O que se faz após a suspeita de morte encefálica?

Iniciam-se os exames clínicos para ter um laudo definitivo. Basicamente são dois exames clínicos feitos por dois médicos diferentes que não tenham nenhum tipo de participação com o processo de doação propriamente dito. Ainda, mais um exame complementar que pode ser um eletroencefalograma, um doppler transcraniano, uma arteriografia. Exames que vão corroborar que não existe mais nenhum tipo de evidência de atividade elétrica cerebral.

E a comunicação de más notícias?

A comunicação alinhada, desde o início, entre médico e família, evita desentendimentos e pode resultar no salvamento de muitas outras vidas. Esse é um dos pontos mais difíceis para a gente. A partir do momento em que é confirmada a morte encefálica, você tem que comunicar isso a família. É difícil tentar explicar que o paciente faleceu por conta dessa dificuldade de você realmente ainda ver o batimento cardíaco, mas por causa dos aparelhos.

Como preservar os órgãos enquanto a família decide pela doação ou não?

Após a constatação da morte encefálica, há a manutenção do organismo, enquanto a família autoriza, ou não, a doação dos órgãos. A gente está com o paciente entubado, respirando no ventilador, com remédio para ajudar a manter a pressão sanguínea, fazendo diálise, então o resto você está conseguindo um suporte para o restante do sistema. Para o cérebro a medicina não tem suporte. Uma vez que alguém evoluiu para uma morte encefálica, não tem como reverter.

É desafiadora a comunicação de abordar assunto doação de órgãos de um paciente com a família?

Você só entra nessa discussão a partir do momento que tem o diagnóstico de morte encefálica. É para que não se crie, mesmo sem querer, um viés de “eu estou fazendo isso porque eu quero doar o órgão desse paciente”. Não é isso. Ele está em morte encefálica e ele está em óbito. Ele tem condições de doar alguns órgãos se a família concordar e autorizar, é claro.

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