Técnica que se demitiu do Rio Branco após Bruno ser contratado faz revelações e críticas

Se antigamente os espaços no campo profissional eram mais restritos para as mulheres, hoje há uma defesa da sociedade mais igualitária. As desigualdades ainda persistem, mas a luta pelo respeito à representatividade feminina ganha força a mais de 3 mil quilômetros do Ceará. A voz de Rose Costa alertou para um problema vivenciado todos os dias pela nossa sociedade: o feminicídio.

Rose é ex-técnica da equipe feminina do Rio Branco/AC e recebeu a missão do presidente do time, Valdemar Neto, de reerguer o elenco feminino que tinha uma história tradicional em competições nacionais.

O trabalho de Rose começou no início do ano, mas por conta da pandemia de Covid-19, as atividades foram paralisadas. No entanto, em julho, a educadora física pediu desligamento do cargo, após saber da contratação do goleiro Bruno, condenado pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio, além do sequestro e cárcere privado do filho que teve com a modelo, atualmente com 10 anos.

O goleiro teve progressão de pena e está em regime semiaberto desde julho do ano passado.

“Eu fiquei sabendo pela imprensa da contratação do goleiro Bruno e, imediatamente, conversei com o dirigente do clube e expus a minha indignação. Rio Branco é um time renomado na nossa cidade, um clube preocupado com a capacidade de formação, cidadania do atleta e coloca como a estrela do time um feminicida”, expõe Rose.

A ex-técnica ainda tentou conversar com os dirigentes, mas a decisão não teria volta. Após a repercussão negativa sobre o desligamento, alguns dirigentes disseram que Rose não tinha vínculo algum com o time. “O presidente chegou até a negar que eu estivesse à frente da equipe feminina. Acho que foi uma forma de tentar que o nome do goleiro fosse abraçado pela cidade”.

Se de um lado houve apoio da diretoria para que o goleiro fosse “abraçado” pelo time, por outro, houve também uma onda de solidariedade em apoio à decisão da técnica Rose Costa. As atletas que eram comandadas por ela se sentiram desrespeitadas e se posicionaram.

 

Profissional não conseguiu trabalhar no mesmo ambiente do goleiro Foto: Foto: Arquivo Pessoal

 

Sexto clube

O Rio Branco/AC é 6º time brasileiro que busca o goleiro Bruno para compor o elenco. Antes, Operário/MT, Fluminense/BA, Poços de Caldas/MG, Barbalha e Boa Esporte chegaram a acertar detalhes da contratação, mas desistiram após a repercussão negativa do anúncio.

Rose acredita que é preciso que haja uma ressocialização. Ela diz que não é contra que o goleiro se reintegre à sociedade, mas ela ressalta que, como Bruno foi condenado, deveria cumprir toda a pena na cadeia, longe do posto de ídolo.

“Ele está com tornozeleira eletrônica, como vai atuar no fim de semana? As crianças da categoria de base não sabem da história e já idolatram o goleiro. Como será esse processo, um criminoso envolvido numa morte de uma mulher, esconde o filho e é ídolo?”, questiona Rose.

Desrespeito

Até hoje, Rose está desempregada após a decisão de deixar o Rio Branco. “Nossa sociedade ainda é extremamente machista. Esse machismo não vem só dos homens, mas está velado também com algumas mulheres. Algumas mulheres na cidade fizeram questão de se colocar a favor dele ou achando que o que ele fez já foi pago. Meu entendimento é que as leis foram muito brandas. Ele tá tendo as oportunidades e qual oportunidade que Eliza teve?”, pontuou.

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