Saiba como foi o contato feito por índios isolados a uma aldeia Kulina no interior

Semanas atrás, moradores da aldeia Terra Nova, na Terra Indígena Kulina do Rio Envira, situada no sul de Feijó, interior do Acre, receberam uma visita inesperada de um homem nu, desarmado e que falava língua diferente. Tratava-se de um índio isolado, que quebrou o próprio distanciamento para fazer contato amistoso com os Kulina.

O homem se aproximou dos habitantes da aldeia, recebeu roupa, cobertor, alguns utensílios para uso na floresta e banana. Ficou para dormir na casa do genro do cacique local e foi embora antes que todos acordassem. “Ele pegou tudo e foi embora, nem o vimos sair”, disse a liderança Cazuza Kulina, em entrevista ao G1.

No dia seguinte, uma nova surpresa. Dessa vez, mais de 10 isolados do mesmo grupo do primeiro visitante são avistados por pescadores da aldeia atravessando o rio rumo à Terra Nova. Eram mulheres, homens e até crianças, todos sem roupa.

Eles estavam à procura do parente que havia feito contato há dois dias. Após breve visita aos Kulina, saíram vários presentes, entre eles pedaços de vidro para cortar os cabelos.

Esses índios vivem a cerca de 4 horas da aldeia Terra Nova, no alto do rio Humaitá. Eles são aqueles famosos isolados cujas fotos ganharam o mundo em 2008 após equipes do governo do Acre e Fundação Nacional do Índio (Funai) serem recebidas a flechadas durante sobrevoo às suas malocas. Ninguém se feriu.

Eles usam cabelos grandes e pintam todo seu corpo com urucum e jenipapo, que têm, respectivamente, colorações vermelha e preta. Fazem flechas e lanças artesanais, vivem em grandes ocas comunitárias e cultivam algodão, batata-doce, banana, entre outros alimentos. “São gente boa, não mexem conosco”, informou Cazuza.

Isolados do Humaitá em sobrevoo / Foto: Ricardo Stuckert

Em entrevista ao El País Brasil, o indigenista Carlos Travassos, ex-coordenador do setor responsável pela proteção dos índios isolados e de recente contato da Funai, disse que o encontro entre isolados e Kulina foi uma exceção.

De acordo com ele, esses povos têm uma relação de vizinhança, mas sempre mantêm distância. “Eles se veem na floresta, ou se aproximam da aldeia, observam com curiosidade e às vezes pegam alguma ferramenta, roupas, uma corda, um facão”.

Desta vez, a situação foi diferente. “Porque o primeiro a chegar estabeleceu um contato amistoso, ficou para comer com eles, comeram mandioca. “Depois chegou o resto e, concluída a visita, foram embora com muitos presentes”.

Saúde

Mesmo pacífico, o contato deixou indigenistas em estado de alerta, uma vez que o organismo dos “brabos”, como são chamados, não possuem defesa imunológica para doenças que comumente acometem os não índios ou os indígenas há décadas contatados.

Uma simples gripe é capaz de matar vários desses isolados ou até mesmo de dizimar sua população. A preocupação é reforçada por conta da pandemia de coronavírus, que se alastra pelo interior da Amazônia, inclusive nas aldeias do Acre.

*Com informações do El País Brasil

(Foto principal: Gleilson Miranda)

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