“Vovohexoa xokó pitivoko akó simapu vevokea ne vitukeovo, ngahá’a enjokea akó’oyea vevaka ra vitukeovo”. Da língua terena para o português: “A aproximação com a cidade não fez a gente perder os nossos costumes, quero mostrar que a gente está presente no mundo atual”.
As palavras são do estudante indígena, Tauan Corrêa Gonçalves, 23 anos. Morador de Aquidauana (MS), a 141 km de Campo Grande, há quase dois anos usa as redes sociais para compartilhar o seu idioma natal e curiosidades sobre a cultura indígena, em uma página chamada Vemó’u (nossa língua, em terena).
“A gente não vive só em uma comunidade indígena terena, aqui tem várias comunidades terenas espalhadas pela região, em diferentes cidades”, conta Tauan.
De acordo com a Secretaria de Estado de Cidadania e Cultura de Mato Grosso do Sul, o povo terena está presente nas cidades sul-mato- grossenses de Aquidauana, Anastácio, Antônio João, Dois Irmãos do Buriti, Douradina, Dourados, Miranda, Nioaque, Rochedo e Sidrolândia.
Com o intuito de manter a cultura terena viva, Tauan decidiu criar uma conta em uma rede social, onde traduz frases da língua terena para o português e compartilha curiosidades. Ele conta que já estudou em ambientes com indígenas e não indígenas e percebeu que alguns purutuye (não indígena, em terena) tinham uma visão diferente da realidade vivida por ele.
Ele também comenta que o contato com a população não indígena provocou uma mudança no comportamento de algumas famílias terenas. “Acarretou em diversas consequências e uma delas foi a questão da língua, da nossa língua materna, do nosso idioma, porque muitas pessoas passaram a falar mais a língua portuguesa, do que a própria língua terena”, afirma.
Segundo observado por ele, a mudança é uma reação à forma como os indígenas são vistos em meios não indígenas. “Eu já conversei com muitos pais que me falaram que optaram por passar primeiro a língua portuguesa, como sendo a língua principal, porque tinham receio de que os filhos sofrerem preconceito nas escolas ou em qualquer meio não indígena”, diz.
Tauan ressalta que o público da Vemó’u é composto tanto por indígenas, quanto por não indígenas. “Uma coisa muito interessante é que muitas pessoas mesmo pertencendo à nossa cultura não tinham acesso a esses conhecimentos, porque vem se perdendo ao longo do tempo”.
As publicações são uma forma de expandir o conhecimento sobre a língua terena e também fomentar dúvidas nos seguidores. “Muitos dos jovens que seguem a página do Vemó’u têm a curiosidade de aprender mais sobre a nossa cultura e sempre me chamando no direct para tirar suas dúvidas”, comenta Tauan.
Com isso, a página ganhou também outra importância para Tauan. Com os questionamentos dos seguidores, ele encontrou uma forma de ampliar seus conhecimentos sobre a própria cultura.
As dúvidas mantêm a página ativa. “Hoje em dia eu posto de acordo com as curiosidades que as pessoas têm”, fala Tauan. Atualmente, ele cursa agronomia na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). “Sempre estou em contato com a minha comunidade, mesmo morando na cidade”, conta.
E se depender de Tauan, a cultura terena vai continuar sendo passada de geração para geração.