Uma paciente de Giovanni Quintella Bezerra, preso na segunda-feira (11) por estupro durante uma cesariana, contou que estranhou o procedimento adotado pelo anestesista quando teve o seu terceiro filho, no dia 5 de junho.
A mulher de 30 anos disse que foi “completamente sedada” e que isso não aconteceu nas outras cirurgias.
“Estranhei porque fui completamente sedada, com anestesia geral. Essa é minha terceira cesárea e nunca aconteceu isso das outras vezes”.
“Depois fiz uma laqueadura e lembro de ter ficado com dor na nuca, fiquei lerda e não achei normal que a dor na cabeça não passava. Não posso garantir se aconteceu alguma coisa, estava inconsciente, mas não notei nada diferente no meu corpo”, completou.
Naiane esteve na manhã desta terça-feira (12) na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de São João de Meriti (Deam), na Baixada Fluminense, onde vítimas do caso são ouvidas.
“Isso que ele fez é uma violência com a gente e com a família. A gente não tem segurança no momento mais feliz da nossa vida. Deus queira que ele seja o único (estuprador), porque ele já foi preso e a Justiça já foi feita. Mas é importante que outras mulheres venham à delegacia para denunciar essa violência”.
Rafael, marido de Naiane, disse que, depois que o bebê nasceu, ele teve de deixar a sala de parto, e ao contrário do nascimento dos outros filhos, não ficou com a mulher até o final.
“Depois que eu saí, ela foi sedada. Tudo isso é revoltante”, disse Rafael.
No meio da manhã, outras duas pessoas que disseram ser pacientes de Giovanni chegaram à delegacia. Assim como Naiane, elas também estavam com os bebês no colo.
Além das vítimas, a Deam também espera ouvir nesta terça um médico e um técnico de enfermagem do Hospital da Mulher, onde o abuso foi gravado.
A audiência de custódia do médico foi confirmada para as 13h desta terça. Na sessão, a Justiça decide se mantém o médico preso — o flagrante pode ser convertido em prisão preventiva.
No início da tarde de segunda, Giovanni foi transferido para o presídio de Benfica, na Zona Norte.
A prisão
Em um vídeo, Giovanni pareceu surpreso ao receber voz de prisão da delegada Bárbara Lomba e, principalmente, ao saber que tinha sido gravado abusando da paciente.
A polícia agora tenta descobrir outras possíveis vítimas do anestesista.
A TV Globo teve acesso ao vídeo da prisão (veja acima). Giovanni foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de reclusão.
Processo de expulsão
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu nesta segunda-feira (11) um processo para expulsar Giovanni.
Clovis Bersot Munhoz, presidente do Cremerj, disse que “as cenas são absurdas”.
A Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Saúde, a que o Hospital da Mulher de Vilar dos Teles, em São João, está subordinado, repudiaram a conduta do médico.
“Informamos que será aberta uma sindicância interna para tomar as medidas administrativas, além de notificação ao Cremerj. A equipe do Hospital da Mulher Heloneida Studart está prestando todo apoio à vítima e à sua família”, afirmaram.
A direção do hospital informou que abriu uma sindicância interna e notificou o Cremerj.
A defesa do anestesista disse que aguarda acesso à íntegra dos depoimentos para se manifestar (veja a nota completa mais abaixo).
Funcionárias desconfiaram e gravaram
Enfermeiras e técnicas do Hospital da Mulher gravaram Giovanni abusando da paciente na madrugada de segunda-feira. O vídeo serviu de prova para a prisão em flagrante.
As imagens são fortes (veja acima).
As funcionárias vinham desconfiando do comportamento do anestesista e estranhavam, por exemplo, a quantidade de sedativo aplicado nas grávidas.
As enfermeiras e técnicas responsáveis pelo flagrante contaram que, no domingo (10), o médico já tinha participado de outras duas cirurgias em salas onde a gravação escondida era inviável.
Na terceira operação do dia, elas conseguiram, de última hora, trocar a sala, esconder o telefone e confirmar o flagrante.
No vídeo do flagrante, a paciente está deitada na maca, inconsciente. Do lado esquerdo do lençol, a equipe cirúrgica do hospital começa a cesariana.
Enquanto isso, do lado direito do lençol, a menos de um metro de distância dos colegas, Giovanni abre o zíper da calça, puxa o pênis para fora e o introduz na boca da grávida.
A violência dura 10 minutos. Enquanto abusa da gestante, o anestesista tenta se movimentar pouco para que ninguém na sala perceba. Quando termina, pega um lenço de papel e limpa a vítima para esconder os vestígios do crime.
Nota de defesa de Giovanni Quintella
“A defesa alega que ainda não obteve acesso na íntegra aos depoimentos e elementos de provas que foram produzidos durante a lavratura do auto de prisão em flagrante. A defesa informa também que após ter acesso a sua integralidade, se manisfestará sobre a acusação realizada em desfavor do anestesista Giovanni Quintella”.