Cientista político da Ufac faz duras críticas à reforma proposta pelo Congresso

O cientista político e professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Nilson Euclides da Silva, lamenta o fato de que no momento de uma crise aguda no sistema político, ao mesmo tempo em que a democracia brasileira precisa de mecanismo que ampliem a participação do cidadão nos processos de decisão, o Congresso Nacional apresente uma reforma política que fortalece o personalismo e o poder dos grandes partidos.

Na opinião dele, pontos da proposta como o a lista fechada pode fortalecer os partidos, mas está sendo pensada em um ambiente em que esses partidos estão sendo dirigidos por líderes que apostam no “caciquismo partidário” como forma de manter o controle sobre os cargos e a influência na política regional e nacional.

O professor reitera o seu apoio à operação Lava Jato, mas lamenta a seletividade em algumas fases da operação, o que, segundo ele, tem alimentado o clima de intolerância e radicalismo político no país.

Afirma que os responsáveis pelas investigações [MPF e Polícia Federal] e, principalmente o judiciário, precisam usar inteligência, sabedoria na condução do processo e na divulgação de informações. “É preciso ter responsabilidade com a verdade, mas também sensibilidade com o momento político, principalmente neutralidade ideológica”, observa ele.

Cientista político e professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Nilson Euclides da Silva/Foto: Jorge Natal/ContilNet

Aprovar uma reforma política em um momento tão importante da história do país, de acordo com ele, é algo que tem de ir muito além dos interesses pessoais ou de grupos político que querem a permanência no poder.

A proposta do “distritão”, a seu ver, é adotar o sistema majoritário, o que a médio prazo irá fortalecer os partidos tradicionais e retirar das minorias a capacidade de representação. “Tudo isto dentro de um sistema partidário e eleitoral carcomido pelo personalismo político e a corrupção em grande parte produzida pela relação incestuosa dos grandes partidos com os interesses de grandes empresas”, acrescenta o professor.

Em relação ao financiamento público de campanha, Silva é favor porque “a democracia custa caro”, além de que a sociedade como um todo tem a responsabilidade de assumir esse custo financeiro, mas o preço a ser pago para se manter o regime não pode ser baseado na injustiça, desigualdade ou em interesses particulares e de grupos.

“Os interesses republicanos devem prevalecer sobre quaisquer outros, e, portanto, falar em um montante de 3,5 bilhões para financiamento de campanha atrelado a uma reforma política como a que está sendo apresentada pelo congresso é imoral para dizer o mínimo”.

Para o cientista político, o comportamento ético, associado ao espírito público dos representantes e do cidadão comum, levará naturalmente a um ambiente político de rigoroso respeito às leis, à defesa das liberdades e aos direitos individuais e coletivos. “Institucionalmente significa um comportamento correto e independente dos poderes constituídos. Infelizmente é o que não vem ocorrendo no país”, finalizou Nilson Euclides.

PUBLICIDADE