A cirurgia a que o presidente Jair Bolsonaro será submetido nesta segunda-feira (28) para retirar a bolsa de colostomia vai alterar a rotina do governo federal nas próximas semanas. Por recomendação médica, Bolsonaro ficará 48 horas desligado das atividades de Estado a partir desta segunda, e o país será comandado interinamente neste período pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
Conforme a previsão médica, Jair Bolsonaro deverá ter condições de retomar as atividades de presidente da República a partir de quarta-feira (30). No entanto, após o afastamento de 48 horas por ordem médica, ele ainda terá que permanecer em São Paulo por até 10 dias para monitoramento.
Neste período, Bolsonaro vai trabalhar no próprio hospital em uma espécie de gabinete que foi montado para dar suporte ao presidente. A intenção é que ele consiga receber ministros e se atualizar sobre os assuntos de Estado.
Ministros viajarão até São Paulo para reuniões e também manterão contato por telefone com o presidente. Bolsonaro assinará atos formais, como despachos e eventuais sanções de leis, a partir do hospital.
O presidente desembarcou na manhã deste domingo (27) na capital paulista para realizar os exames pré-operatórios. Ele utiliza a bolsa de colostomia desde que foi alvo, no ano passado, de um atentado à faca durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
Na ocasião, ele teve o abdômen perfurado e teve de ser submetido a duas cirurgias: uma na Santa Casa de Juiz de Fora e uma segunda no Albert Einstein, onde foi implantada a bolsa.
A colostomia é um procedimento que encaminha as fezes e os gases do intestino grosso para uma bolsa fora do corpo, na região abdominal. Com a cirurgia desta segunda-feira, a equipe médica religará as partes do intestino do presidente que estão separadas.
Mourão na Presidência
Segundo o porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio Rêgo Barros, Hamilton Mourão ficará interinamente no comando da Presidência durante a cirurgia de Bolsonaro e nas 48 horas seguintes ao procedimento.
O presidente da República comunicou formalmente a Câmara e o Senado sobre a realização da cirurgia. Em mensagem publicada no “Diário Oficial da União” na sexta-feira (25), ele informou que ficará “sob efeito de anestesia geral” durante o procedimento cirúrgico e que o atestado médico o impedirá de exercer a Presidência por 48 horas.
Essa será a segunda passagem de Hamilton Mourão pela Presidência no governo Bolsonaro. Na semana passada, o vice comandou o país de segunda-feira (21) até a madrugada de sexta, no período em que Bolsonaro viajou a Davos, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial.
A previsão é de que Mourão comande uma reunião ministerial na terça-feira (29) no Palácio do Planalto. Bolsonaro costuma reunir o “conselho de governo” uma vez por semana, às terça-feiras. A pauta do encontro desta semana prevê uma apresentação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre governança.
Congresso volta das férias
A recuperação da cirurgia de Bolsonaro ocorrerá na semana em que ocorrerá a retomada das atividades parlamentares no Congresso Nacional. Na sexta-feira (1º), deputados e senadores eleitos em outubro vão tomar posse para a próxima legislatura. No mesmo dia, serão eleitos os presidentes da Câmara e do Senado para os próximos dois anos.
A expectativa, neste momento, é de que o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se reeleja. Ele tem o apoio declarado de 12 partidos, entre os quais o PSL de Bolsonaro.
No Senado, entretanto, o desfecho ainda é imprevisível. A eleição que escolherá o sucessor de Eunício Oliveira (MDB-CE) poderá ter recorde de candidatos. Até agora, oito senadores são cotados para disputar o comando da Casa, entre eles o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL).
Apesar de o Palácio do Planalto repetir que não vai se envolver nas eleições internas do Legislativo, integrantes da área política do governo estão de olho no processo. A preocupação do Executivo federal é com a possibilidade de alguém não afinado com o Planalto assuma o controle das casas do parlamento.
Renan Calheiros, por exemplo, é visto por integrantes do Planalto e da futura base governista de Bolsonaro como um risco à governabilidade, em razão de ser considerado um político independente que poderia gerar dificuldades para a aprovação de pautas consideradas cruciais para o novo governo, como a aprovação da reforma da Previdência. Oficialmente, contudo, o senador de Alagoas nega que vá disputar o comando do Senado mais uma vez.
Os presidentes da Câmara e do Senado têm o controle da pauta legislativa. São eles que decidem quais assuntos são colocados em votação e quando os temas serão votados.
Além de acompanhar as eleições para o comando da Câmara e do Senado, Bolsonaro vai monitorar do hospital os desdobramentos e os trabalhos de assistência às vítimas do mar de rejeitos de mineração da Vale que invadiu a área rural do município de Brumadinho (MG).
Na manhã de sábado (26), dia seguinte à tragédia, o presidente foi a Minas Gerais para sobrevoar a área atingida pela onda de lama e coordenar uma reunião do gabinete de crise instalado em Belo Horizonte para acompanhar o caso.
Ao retornar para Brasília no sábado, Bolsonaro publicou em uma rede social que o governo fará o que estiver ao alcance para evitar que tragédias como a de Brumadinho se repitam.